sexta-feira, outubro 31, 2003

Miguilim

Hoje li alguns trechos da novela "Campos Gerais", Guimarães Rosa, para minha mãe e não consegui segurar as lágrimas.
Aliás, esse foi o último livro que me fez chorar. Fiquei impressionada como Miguilim ainda me emociona, mesmo depois de ter aprendido a me distanciar do meu objeto de estudo. (Sim, pessoas, literatura é o meu principal objeto de estudo, a coisa que mais faço na vida é análise de textos literários, crítica literária etc.)

Acho que nunca vou querer estudar Miguilim, pois será preciso não me emocionar mais com sua infância sofrida.

E se meu velho acordasse?

Se do seu sono eterno levantasse e viesse até mim?
O que dizer, o que pensar? Poderia eu com minhas palavras, tão vãs quanto a luta que se faz com elas, expressar o quanto desejei tal momento?
Poderia fingir o sentimento vivido sem parecer fingimento?
Não! Seria como encontrar a felicidade e dali não haver mais motivos ou sentidos para continuar escrevendo.
Se Drummond dissesse que meus escritos valiam qualquer coisa, eles já não valeriam mais nada. Se Drummond dissesse que meus escritos não valiam nada, eles continuariam não valendo.

Bom, pelo menos poderíamos brindar ...





Parabéns, meu velho!

quarta-feira, outubro 29, 2003

A quem eu quero enganar?





Gravura tirada daqui

Outra Vez
Isolda

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci

Você foi, dos amores que eu tive
o mais complicado
e o mais simples pra mim
você foi o melhor dos meus erros
a mais estranha história
que alguém já escreveu

E é por essas e outras
que a minha saudade faz lembrar
de tudo outra vez
Você foi a mentira sincera
brincadeira mais séria
que me aconteceu

Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade
Que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha vontade sem nada a perder

Você foi toda felicidade
Você foi a maldade
que só me fez bem
Você foi
o melhor dos meus planos
e o maior dos enganos
que eu pude fazer


Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez


Eu não queria...

Eu não queria ter que tocar no assunto, porque acho que isso aqui é um blog, visitado geralmente por amigos, pois eu raramente divulgo e muitas vezes até prefiro não ser "linkada" por outros blogs, justamente para que a coisa fique entre amigos mesmo. E como é uma coisa entre meus amigos, não precisaria passar por essas situações, afinal, quem me conhece ou teve vontade de me conhecer, sabe da minha vida e se não sabe, pelo menos sabe que tem a liberdade de perguntar qualquer coisa que eu não me ofendo em responder.
Também não ligo se me façam críticas (desde que assinem para que eu saiba quem está falando, não precisa expôr-se no blog, mas para mim sim. - Ah, nem adianta me mandar ouvir Sandy&Junior porque isso não rola, como já fizeram aqui, uma vez).
Pode falar mal de mim e até me xingar, desde que eu entenda o motivo, mas o que aconteceu foi ridículo. Recebi alguns e-mails ofensivos, com endereços diferentes, mas com textos iguais. Não vou transcreve-los, pois são de extremo mau gosto, mas adianto que falavam sobre a minha orientação sexual de forma vulgar e cheia de preconceito. Eu nunca falei aqui sobre a minha orientação, poderia dizer que omiti porque ninguém tem nada a ver com isso, o que é verdade, mas tenho um blog e de certa forma deixo uma parte da minha vida exposta aqui. O fato é que nunca falei disso, porque iria parecer aquele quadro do Casseta e Planeta onde um cara que frequenta a sauna gay fica repetindo: "Eu não sou gay".
Eu sou heterossexual, porque gosto de pessoas do sexo oposto, no caso, homens. Mas o fato de ter uma orientação sexual que não enfrenta preconceito, não me dá o direito de achar que está tudo bem, pois não está. Todo mundo tem o mesmo direito - e isso é garantido por lei - por isso que faço propaganda de sites que lutam para que todos tenham o direito de amar, de se relacionar e de demonstrar carinho em público.
Fora isso, frequento bares gays, vou todo ano na parada do orgulho gay e tenho amigos homossexuais. Meu primeiro emprego na área de jornalismo foi em um site de baladas gays (o projeto não foi pra frente, infelizmente) e visto a camisa da causa. Contudo, não separo meus amigos por orientação sexual, a maioria é homossexual, sim, mas antes disso, são meus amigos e com quem eles se relacionam não faz a menor diferença, o importante é que eu gosto muito deles e sei o quanto é difícil enfrentar preconceitos, pois eu também os enfrentei, em todas as suas faces, afinal, venho de uma cultura diferente, sou da periferia de São Paulo e sou uma mulher "bicha", como ressaltam alguns. (Só não sou corinthiana, mas aí já é demais, né?)
Eu gostaria de viver em mundo em que não fosse preciso fazer campanhas para que as pessoas aceitassem a diferença. Gostaria de não estar escrevendo esse post e, principalmente, gostaria que as pessoas fossem julgadas por sua honestidade, sinceridade e caráter, não por sua orientação sexual.
Esses e-mails me ofenderam, não por me chamarem de lésbica (não foi esse o termo, aliás), mas pelas ofensas contidas porque a pessoa achou que essa fosse a minha orientação sexual. Não é, mas e se fosse, porque as ofensas e a indignação dessa pessoa? O que isso interfere na vida dele ou dela, seja lá quem for ? Qual o motivo de tanto ódio?
A única resposta que eu encontro é que pessoas assim são tão covardes que odeiam quem tem a coragem de se aceitar, o que não acontece com alguém que ofende os outros por serem homossexuais e nem tem coragem de assinar, quanto mais se aceitar.
Desculpem, meus amigos, eu nem ia tocar no assunto, mas comentei o fato com meu mais que AMADO amigo Negro Anjo e ele achou que eu deveria falar sobre isso, como ele também falou sobre o assunto em seu Folhetim.
É isso, espero não mais receber tais e-mails e já aviso, qualquer comentário de homofóbico nesse blog será apagado. Eu respeito a liberdade de expressão, mas não respeito preconceito.

terça-feira, outubro 28, 2003

Comercial de Margarina

Antes de escrever um post sério, sobre umas pessoas do mal, um comercial de margarina com gente do bem!!!
Cantando no ritmo do comercial:

Menino Experimental é uma delícia...
O Anjo Negro é uma delícia...
A fofa da Adri é uma delícia...
O meu amigo Frank é uma delícia...
A tia Turmalinda é uma delícia...
Meu "ex marido" Edy é uma delícia...



O Bruno Garcia é uma delícia...

Amor

Hoje é aniversário da pessoa responsável por essa pessoa que vos fala.
É aniversário da senhora morena, morena senhora dos enamorados, da minha mãe, a pessoa que mais amo no mundo. Assim, não poderia ser outro o título deste post, pois não há outra palavra para defini-la. Enfim, já disse que sou Edipiana, não nego, nunca vou negar.
Eu ia falar sobre um passado recente, contudo, prefiro pensar no presente, no futuro e nela ao meu lado.

Parabéns, minha Jocasta! Que outros aniversários venham... Muitos outros.

domingo, outubro 26, 2003

Porque recordar é viver...

Ou preguiça de inventar coisas novas...
Post repetido, diretamente de antigos detalhes...

Inexistência


Ela saiu naquela tarde de Quinta ?feira. Foi encontrar-se com o desconhecido. A vida não havia sido gentil com ela, mas ela também nunca fora gentil com a vida e nem consigo mesma.
Nunca passava desapercebida e isso a fazia sentir-se apavorada. A sensação de inexistência era o que sempre procurava. O anonimato paradoxal foi o que construíra. Queria fazer parte da vida das pessoas, mas não de forma direta, ninguém precisava saber que havia sido ela a causadora de alguma mudança, para o mal ou para o bem. Contudo, se fosse para ser lembrada, seria melhor que fosse pela sua crueldade, preferia existir nas pessoas de forma cruel e assim, jamais mostraria a ninguém toda sua fragilidade e insegurança.
Menina insegura, jovem solitária, mulher indefinida, quase um ser andrógeno. Não se arrumou, não vestiu a sua melhor roupa. Apenas tomou um banho, vestiu-se como de costume e foi ao lugar marcado.
Chegou atrasada, não gostava de atrasos, porém sempre chegava. Não se importou muito com o que o rapaz pensaria, preocupava-se com ela, com a sensação de desconforto ao fazer sempre algo que não admitia.
Foi simpática. O abraço convidativo que ele a dera a fez sentir-se mais tranqüila, embora continuasse nervosa. Não mais pelo atraso, mas por algo que encontrou em seu olhar. Incomodava-a aquele olhar tão crente e tão ávido por viver. Insultava-a de certa forma.
A tarde foi agradável, nem sentiu o tempo passar. Esquecera de seus compromissos, jamais os esquecia, mesmo que não existisse compromisso algum. Na presença de outras pessoas sentir-se parte delas era impossível. Ainda que fosse gentil e agradável, não sentia-se bem. Naquela tarde sentiu-se.
As horas foram passando, não queria ir embora. Precisava alimentar-se da crença e da pureza que transbordavam naquele olhar. Prestava atenção em cada detalhe, reparando em cada gesto e, principalmente, em seu silêncio. Como era doce o silêncio. Quis fazer parte daquele silêncio, sentiu uma necessidade quase inconcebível de ser o motivo do silêncio de um homem que mais parecia uma criança desprotegida. Tão inseguro quanto um dia ela fora, quanto ela ainda era, mas usava máscaras para não ser percebida, não ser olhada ou mesmo reconhecida.
Por que ele não as usava? Como deixar que outros vejam tão claramente seu despreparo? Seria ele sempre tão menino e tão mortal? Pensava desconcertada. Não entendia tamanha pureza e sinceridade. Ela também era sincera, mas sua sinceridade era racional. Era verdadeira com seus pensamentos, não com seus sentimentos. Não concebia sinceridade nos sentimentos.
Ele tornou-se assustador. Teve medo quando a tocou pela primeira vez. Estavam ali há horas e de repente suas mãos encontraram as dela. Um simples entrelaçar de mãos que mais parecia um beijo roubado. Suas mãos eram quentes e ele parecia colocar todo seu desejo naquele toque. Um pavor surreal a tomou. Queria fugir, sair correndo, mas era tarde demais....


A teus pés

Uma das maiores frustrações da minha biblioteca é não ter o "A teus pés" de Ana Cristina César.
Eu a conheci através do Jô e simplesmente me apaixonei, fiquei tão deslumbrada por ela que até poema em sua homenagem fiz. Algumas coisas em sua biografia me assustaram, algumas coisas em sua escrita também.
Hoje no Inéditos e Dispersos, blog dedicado à Ana, só com poemas seus (e tem um meu, o que eu fiz pra ela!), um pedido meu foi atendido. O poema "Sexta feira da paixão" que o Menino Experimental leu para mim na quinta...
É simplesmente sublime.
Leiam! Leiam!

Temperamental

Meu computador é temperamental como sua dona. Andou tendo crises existenciais durante esses dias, por isso, não usava nenhum dos meus comunicadores e às vezes, nem postava. Ou melhor, o que eu conseguia postar era porque já estava salvo.

Enfim, formatei o rebelde, perdi um monte de arquivos e sinto um medo tremendo de que o HD onde se encontrava meu romance e meus contos tenha se suicidado.
Talvez eu consiga salvar pelo menos isso...

sexta-feira, outubro 24, 2003

uma bobagem qualquer

Um personagem. Digamos que ele é homem. Solteiro ou casado? hum... solteiro é melhor. As histórias de amor sempre dão bons frutos quando ainda não começadas.
Ele tem 29 anos. Não, 30! Ah, vamos deixá-lo com 29, vai. Não, 27, sempre quis um personagem com a minha idade do sexo masculino.
Gay ou hetero? Hum, deixamos hetero.
Ele sai pela Av Paulista e a vê. Quem seria ela? Conhecida, desconhecida... não importa. O importante é que ele a vê e sente aquelas coisas que todo mundo sente quando vê aquela pessoa e "aquela pessoa" para ele, era ela.
O que acontece?
Se fosse um filme tocaria uma trilha sonora. Um conto, ele iria falar com ela.
Mas se fosse vida real?
Provavelmente não aconteceria nada...


O jantar da paz

Jantar japonês com pessoas fofas, pessoas lindas e mais pessoas engraçadas e legais. Passeio breve à comida japonesa onde tudo era da paz, exceto um sorvete "quente" que provocou a discórdia, mas ainda assim uma discórdia da paz.
Dormi vendo estrelas, acordei com o sol na minha cara e levei um tombo que machucou meu pobre joelhinho. Mas tudo bem, foi um tombo da paz!



quarta-feira, outubro 22, 2003

Mandando Beijo

Um beijo grande para minha nova amiga de Belém.
Tiana, legal entrar em contato com poetas como você. Adorei!!

Adri, beijos pra você também. Adorei conhecê-la!!!

Layla, beijo também.
Fulana, saudades, mais beijo nocê.
Srta Coisa, também saudades, beijo procê também.



Pronto, acho que já beijei todo mundo que queria por hoje...
Ah, ia esquecendo do Márcio e do Edu.


Torta

O anjo torto, não contente em me predestinar a ser errada, também me deixou torta. É, eu descobri que tenho o rosto torto.
No ano passado, eu tinha um óculos de intelectual. Ele era todo bonitinho e flexível e eu podia ajustá-lo ao meu rosto. Um dia, coloquei-o no rosto de um moço e percebi que ele estava torto.
Eu disse:
- Ué, meu óculos está torto.
- Coloca de novo em você, quando olhei pra você não estava.

Eu coloquei novamente e ele olhou, olhou, olhou e disse:
- Caralho! Tá torto pra caralho.
(O moço gostava dessa expressão "caralho")
Aí eu fui arrumar, porque o óculos era flexível, mas ele continuou torto no rosto do moço e eu fiquei com vergonha de colocá-lo novamente. Passado alguns dias, eu voltei a usar meu óculos, mas ninguém notava que ele estava torto. Eu colocava no rosto de outras pessoas e ele ficava torto, mas no meu não.
Hoje eu tenho um óculos que não é flexível, nem de intelectual. Ele é um óculos vermelho-olhepramim quadradinho. Ontem, uma amiga disse:

-Beduína, por que seu óculos está torto?
Eu coloquei nela e vi que não estava torto. Aí lembrei do meu óculos que ficava torto no rosto dos outros e percebi que quando o óculos está torto, no meu rosto fica certo. Quando está certo, no meu rosto fica torto. Puxa, eu tenho o rosto torto!

Bem, acho que este post deve servir para alguma coisa... de repente, alguém que queira comprar óculos e ter a certeza de que ele não está torto, pode me chamar para ir na ótica com ele... Ou então algum pintor que queira fazer um quadro ao estilo de Picasso, pode me chamar para posar pra ele.
É, isso é um post de utilidade pública.

terça-feira, outubro 21, 2003

Beduína e o Medo

Era uma vez uma beduína que vivia num deserto muito distante. Esse deserto ficava além das fronteiras entre o céu e a terra, localizava-se nos mistérios que habitam entre esses dois pontos e que são muito maiores do que julga a nossa vã Filosofia.
Jogava seus versos ao vento para ouvir algo além de seu eco, contudo, apenas a sua voz ouvia, repetindo as últimas palavras como alguém que pretende participar de uma conversa, mas não sabe muito o que dizer. Então, balança a cabeça e repete as últimas palavras.
Um dia olhou-se no espelho e se deparou com todos os seus medos. Percebeu que convivia com o maior deles: o de morrer sozinha no deserto e só ser descoberta quando, anos mais tarde, alguém ouvisse o seu eco, tal qual uma estrela que só é vista, bilhões de anos luz, após sua morte.
Num momento de loucura, ou sanidade total, quebrou todos os espelhos e cegou seus olhos.

domingo, outubro 19, 2003

Uma homenagem à minha família

Foi lindo ver minha mãe e minha tia dançando juntas.
Lembrei de quando era criança e se formava aquela roda de "Dabick" (dança folclórica libanesa, eu não sei fazer a transliteração direito.). Todos dançando e batendo palma. Meu tio sempre animado, ficava na ponta, mostrando como se faz para os garotos que, sem jeito algum, arriscavam entrar na roda. Minhas primas me arrastando para o meio da roda para que eu dançasse e, eu, sempre morta de vergonha, não ficava mais de dois minutos até que arrastava minha vó. E era lindo ver a felicidade da minha vó, dançando ali no meio e sorrindo o sorriso das mães quando todos os seus filhos estão ao seu redor.

Hoje, não tinha a minha avó, não tinha todas as minhas tias, nem primas. Mas eu, minha mãe, minha tia, suas duas filhas e os filhos da minhas primas fizemos a roda. Foi bom dançar. Foi bom lembrar.

Aliás, vocês já assistiram "Lavoura Arcaica"?

Avisos

1- Pela milésima vez meu icq morreu. Aos amigos do icq: eu tenho o msn messenger, quem quiser papear comigo é só me adicionar, o e-mail tá ali do ladinho.
2- Eu amo o Márcio
3- Mostra de Cinema de SP - quem quer ir comigo essa semana? Convite especial para os amiguinhos da faculdade.
4 - Eu amo o Márcio. Ah, é, eu já disse isso, mas digo de novo.
5 - Tia Turmalina, eu tô morrendo de saudades de você. LIGAAAAAAA!!!
6- Eu amo o Márcio. - De novo? - E daí, vai de novo, ué!

Bom, avisos feitos.

sábado, outubro 18, 2003

Querido Diário



Querido diário,

As pessoas aqui dizem o tempo inteiro que fui eu. Mas não foi, eu juro! Eles falam que eu não sei controlar minha raiva e que quebro as coisas, mas é mentira. Eu não sinto raiva, querido diário.
Bem, pelo menos agora, eu consigo acordar sem ouvir gente brigando, acho que é por causa dessas coisas que parecem caixa de ovo. Em casa era todo dia uma briga, acho que por minha causa. Lá também me acusavam, diziam que tinha sido eu. Mas também não foi. A diferença é que quando eu falo que não fiz nada para as pessoas daqui, eles respondem: "não fez o quê?" Em casa não, eles sempre lembram.
Além disso, Napoleão, Romeu e Julieta sempre me defendem de todo mundo. Eles são legais. Romeu e Julieta sempre me dão presentes e chocolates para que eu fique na porta do quarto da Julieta enquanto Romeu entra lá. Sabe, diário, eu acho que a Julieta tem asma.
Napoleão brinca comigo todas as tardes e me conta histórias que ele mesmo inventa. Outro dia contou sobre um moço que foi internado pela família só porque ficou muito triste quando sua amada morreu. Ele sempre me abraça e me coloca para dormir. Às vezes chora muito. Acho engraçado o nome dele, Napoleão é um nome muito engraçado, né diário?
Aqui às vezes é legal, tem a dona Vera que me manda escrever diário, porque quando vou falar com ela, não digo nada. É que não tenho o que dizer, gosto de ficar olhando para ela. Dona Vera é muito feia, parece uma bruxa. Tem um cabelo grandão, usa umas roupas folgadas e fala devagar. Tão devagar que quando ela termina de fazer alguma pergunta eu já esqueci o começo e não sei o que responder.
Domingo é o pior dia, porque todo mundo recebe visita de parente e nem o Napoleão, nem o Romeu e a Julieta podem vir falar comigo ou me chamam para fazer alguma coisa.
A placa que está lá fora diz que aqui é um centro para pessoas especiais. Eu não acho que sou especial, ninguém vem me visitar.

sexta-feira, outubro 17, 2003

Um Tempo.


Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente...

Com esses versos do Chico quase adormeci e com esses versos, acordei. Meu sono insone me fez lembrar que desccobri no último momento um tempo que refaz o que desfez e recolheu todo o sentimento. Esse tempo já faz tempo, mas parece que não, e eu só não digo que parece que foi ontem, porque ontem não foi um dia tão bom.

Bóra trazer mais gente que tem link.

Como já disse, as pessoas têm links agora, não é um problema, ou melhor, só é problema pra minha preguiça, mas quando a pessoa é legal, quando o blog é legal, minha preguiça até que se rende e eu coloco os links.
Vou começar pela Adri. Primeiro porque no blog dela tem a foto do clipe mais legal do Weezer, aquele com os muppets!!! Segundo porque ela gosta de Belle&Sebastian e, principalmente, porque ela adora "Women's Realm" (não acho o "Fold.." o melhor deles como a Adri, mas essa música é demais!). Bem, só por aí vocês já perceberam que ela é gente boa e tem muito bom gosto musical. Mas nem só de bom gosto musical vive a moça, vive também de Letras, Fotografia e cinema. Enfim, Adri já está entre os amigos. Conheçam:



Agora um guri de 17 anos que odeia ser chamado de guri. Uma vez ele me disse que uma das minhas personalidades (sim, tenho várias), era dar trela para um "pirralho" da idade dele. Respondi que esse era meu trabalho, afinal, sou professora, contudo, se todos os alunos de 17 anos pra quem já dei aula fossem tão interessados quanto ele, seria ótimo. Felipe agora é um amigo querido que já deveria estar entre os amigos se não fosse a minha preguiça e seu blog não tivesse um endereço tão grande!


quinta-feira, outubro 16, 2003

Desejo

Eu queria que minha vida fosse um comercial de margarina!

terça-feira, outubro 14, 2003

Corra, Nice! Corra!

"Se o filme está ruim, a gente fecha os olhos e imagina outro final"
(Jô)

Acordei. Voz do Chico Buarque cantando "Carolina". Ouvi minha mãe gritando:
- Corra, Nice! Corra!
- Hã? Correr?
- Vai buscar o remédio, precisamos do remédio. Só ele pode curar. Mas a farmácia está fechada, vai ter que ir lá na Avenida. Na 24 horas.
- Ué, manda ele ir de carro...
- Claro que não, podemos precisar do carro se você não chegar em tempo. Pode piorar. Corre! Anda!
Saí correndo, corri por 15 minutos como uma louca. Mas fumo demais, estava sem fôlego. São 28 cigarros por dia...
- Que precisão! Vinte e oito contados...
Essa voz! Ouço essa voz desde os dois anos...
- É, estou fazendo um diário tipo Bridget Jones. Depois de passar o ano novo bebendo como uma louca e ouvindo Creep, resolvi fazer um diário. Ao menos Radiohead não é tão degradante quanto Celine Dion...
- Mas também não tem um Hugh Grant na sua vida, né?
- É... você tem razão...
Continuei correndo, correndo e parando. Cheguei à farmácia, estava fechando. Tentei impedir e coloquei minhas mãos na porta. Cortei os pulsos.
Voltei pra casa, jorrava sangue. Não havia ninguém, apenas o meu cachorro que ria da minha cara.
Fade.
Acordei. Voz do Chico Buarque cantando "Carolina". Ouvi minha mãe gritando:
- Corra, Nice! Corra!
- Hã? Correr?
- Vai buscar o remédio, precisamos do remédio. Mas a farmácia está fechada, vai ter que ir lá na Avenida. Na 24 horas.
- Ué, manda ele ir de carro...
- Claro que não, podemos precisar do carro se você não chegar em tempo. Pode piorar. Corre! Anda!

Saí correndo, mas dessa vez, achei melhor ir de bicicleta. Pedalava como uma desesperada, quando percebi que a bicicleta estava sem freio.
- Claro que estava sem freio, se não estivesse, não seria sua bicicleta.
- Você de novo...
- Claro, estou sempre com você, desde quando tinha dois anos e chorava na janela.
- É, está certa.
- Sempre estou certa. Sou a única coisa certa da vida.
Continuei pedalando como desesperada. Um carro se aproximou. Capotei, e caí. Fui levada para dentro do carro. Tinha uma sirene e ao meu lado uma caixa de madeira que me cutucava. Perguntei o que era e ele disse que era um caixão. Fiquei assustada e ele me explicou que era o carro da Funerária. Ouço gargalhadas de dentro do caixão:
- Nem assim você consegue, né?
-Tinha que ser você.
-Você me chamou, ué.
Joguei-me do carro. Voltei pra casa, um machucado no tornozelo direito. Ninguém em casa, apenas o meu cachorro que tirava o maior sarro da minha cara.
Fade.
Acordei. Voz do Chico Buarque cantando "Carolina". Ouvi minha mãe gritando:
- Corra, Nice! Corra!
- Hã? Correr?
- Vai buscar o remédio, precisamos do remédio. Mas a farmácia está fechada, vai ter que ir lá na Avenida. Na 24 horas.
- Ué, manda ele ir de carro...
- Claro que não, podemos precisar do carro se você não chegar em tempo. Pode piorar. Corre! Anda!
Saí. Chovia em São Paulo. As ruas alagadas, comecei a nadar.
- Mas você não sabe nadar!
- É, por isso me afoguei...
- Mas te salvaram, olha lá...
Voltei pra casa. Toda molhada. Ninguém em casa, apenas o meu cachorro que não parava de rir.
Fade.
Acordei. Voz do Chico Buarque cantando "Carolina". Ouvi minha mãe gritando:
- Corra, Nice! Corra!
- Hã? Correr?
- Vai buscar o remédio, precisamos do remédio. Mas a farmácia está fechada, vai ter que ir lá na Avenida. Na 24 horas.
- Ué, manda ele ir de carro...
- Claro que não, podemos precisar do carro se você não chegar em tempo. Pode piorar. Corre! Anda!
Saí correndo. Descolei uma carona com meu vizinho. Cheguei na farmácia e estava aberta. Comprei o remédio.
Voltei pra casa e não havia ninguém, nem o meu cachorro. Tomei todos os remédios.
- Não tem jeito. Não acha que tá na hora de parar de correr?
- Correr é bom...
- Você fuma demais pra isso...Outra coisa que deveria parar.
- Mas é que sem eles vou me sentir tão sozinha.
- Você já está sozinha. Afasta todo mundo.
- Estou grogue...
- Claro, tomou tanta bola... e nem barato dá... Vai é te fazer dormir. Agora dorme aí que eu preciso ir.
- Você volta?
- Sinto dizer-lhe que sim. Por isso pára de correr pra mim e de si mesma. É melhor tentar mudar o SEU filme.
Adormeci.
Fade.
Acordei. Voz de Chico Buarque cantando "Até o fim". Ninguém em casa, apenas um bilhete na geladeira:
Nice,
Fomos à praia. Voltaremos em quatro dias.
Seu pai está bravo, a conta telefônica chegou. Vai se preparando.

Olhei na folhinha e pela data do bilhete já havia passado os quatros dias. A porta se abriu. Todos entrando queimados, sorridentes e de óculos escuros. Inclusive meu cachorro. Ele sorria cinicamente, canto de boca. Quando todos entraram, fechei a porta e o ouvi dizer:
- Pega, Nice! Pega!


***Quando escrevi isso, achei que iria sair no meio da sessão de cinema e não chegar ao final, mas hoje, Felipe, pode ter certeza, eu vou até o fim, como sempre fui, mesmo tentando não ir.

domingo, outubro 12, 2003

As pessoas têm links agora

Eu raramente conheço as pessoas através dos blogs. Na maioria das vezes conheço primeiro as pessoas e depois seus blogs. Aliás, na maioria das vezes não, até hoje só duas pessoas eu conheci primeiro o blog e depois a pessoa. Isso é legal, porque posso ouvi-las dizer o que escrevem, mas é estranho, porque elas têm links agora.
Enfim, isso é para dizer que mais uma pessoa tem link e está ali do lado. É o:
Pierrot le FOU. Vamos amiguinhos, conheçam o:



Eu conheci e gostei, tanto do blog, quanto do moço para quem me apresentaram como drag queen.

Sambamaria

(Celso Sim)

Sambamaria Aparecida nossa senhora mãe do Brasil
Santa mãe menininha da fé
Com axé-shalon-salamaleico-saravá que há
No recôncavo da Sé
No rito da comida-bebida-dança do afoxé
Quanto maior a sinceridade, maior é o segredo
Quando maior a dificuldade, maior é o desejo
Mão da doçura feita na labuta do canavial
Pé do caminho quente da alegria do carnaval.


Hoje é dia da santa negra.

Filhos

Sabem qual é a melhor coisa quando se tem uma filha?
É que até no dia das crianças ela te manda um cartão dizendo que te ama.

Fabi, também te amo, minha linda. Se tivesse a garantia de que todos os meus filhos seriam iguais a você, tratava de repovoar a Terra e passaria a vida inteira grávida, como aquela mulher do "Eu, tu, Eles". Como não tenho, fico só com você mesmo, que já veio pronta e aos 16 anos de idade, o que facilitou muito minha vida, já que não precisei trocar fraldas, ouvir choro de criança de madrugada e, principalmente, pulei a pré-adolescência e a fase dos "por quês", que são muito chatas, pegando somente o finalzinho da adolescência, que já estava acostumada, dado os anos de Educadora e Professora.
Aliás, dia 15 tem que mandar mais presente!!! Mamãe, além de criança, é professora.

Não se sabe revelar

Estava relendo o poema de Pessoas O amor, quando se revela e pensando numa conversa que tive com o Ricardo.
Bateu saudades...

sábado, outubro 11, 2003

Coisas que pretendo fazer antes de morrer

Visitar a Índia e entoar um mantra em Sanscrito.
Ler Goethe no original.
Ler Dostoievski no original.
Ser enredo de escola de samba, de preferência a Vai Vai.
Tocar pandeiro numa roda de samba com Paulinho da Viola.
Aprender a tocar piano.
Casar - Cinco minutos antes de vestir a roupa de madeira, claro.

Uma campanha inspirada na minha faculdade


Ai ai...

Será?

sexta-feira, outubro 10, 2003

Campanha

O filho do Ringo toca bateria.
O Sean Lennon também faz parte do cenário musical.
O filho do Paul toca guitarra, mas quem toca guitarra toca baixo.
O George tem filho? toca algo?
Se tiver, vamos fazer o que fizeram com a Elis Regina e lançar uma banda que não se chamará Beatles, mas que é igualzinha aos caras?

Afinal, já disse Paul que não se pode requentar um suflê, sobre a volta dos Beatles, mas cloná-lo até que é uma idéia, não acham?

Para a noite desse dia que eu reservei para amar

Amar!
(Florbela Espanca)

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente..
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


quinta-feira, outubro 09, 2003

Hum...

Menino Experimental, me chama de Lucíola, me faz sua Senhora! Me mostra o Tronco do Ipê!
Me diz assim: "Vem, gazela, eu quero ver sua pata".
Eu quero despontar no céu Fluminense, como Aurélia e entregar-me numa doce escravidão.

quarta-feira, outubro 08, 2003

Outono

José Miguel Wisnick

Os soluços longos dos violões do outono
Ferem meu coração com um langor monótono
Chega de verão outros tons no chão é quando
Vão os sonhos vãos no coração desfolhando
Vem meu bem ficar assim
Vem colher amor em mim
Um no outro até morrer
A tarde de prazer
O dia não ter fim
Os soluços dos violões do outono
Enchem todo meu coração de dor e abandono
Chega de verão tudo agora é sombra e sonho
E os sonhos vãos no coração desfolhando
Vem meu bem ficar assim
Vem gozar o amor em mim
Um no outro até morrer
A tarde de prazer
O dia não ter fim.

terça-feira, outubro 07, 2003

Justificativa para minha vida

Sou uma pessoa que, apesar dos 26 anos quase 27, não vive no mundo adulto normal padrão. Fazer o quê? Não saí da adolescência... sou poeta, pelo menos no que diz respeito ao modo de vida e viver de poesia...

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta minha adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência


(Paulo Leminski)

sábado, outubro 04, 2003

Soneto


Na estante guardava o retrato em branco e preto
Na orelha de um livro e no meio da estrada
Mas à coleção ainda faltava um detalhe, quase nada
Alguns versos derradeiros para formar o soneto.

Debrucei-me nas palavras sem achá-las de momento
Substantivos, adjetivos: as frases saiam forçadas
Faziam-se complicadas, fugiam-me entre os dedos
Tombavam pela boca e no ar encontravam-se paradas.

Tentei roubá-las num assalto vão à Possibilidades
Pegar emprestado as de Carlos Drummond de Andrade
Retornei à renascença e apelei a Camões e Petrarca

Nenhuma resposta obtive nem nas formas arcaicas
Nas cantigas ou sonetos só o amor que tive
Hoje meu amor reside em cantos de amizade.

Tá lindo

Pós-Gay de cara nova. Está lindo!
O blog, porque o autor É lindo!

(Nossa, me sinto tão Caetano após esse post. )

Vou ferver
Como que um vulcão em chamas
Como a tua cama que me faz tremer
Vou tremer
Como um chão de terremotos
Como o amor remoto que eu não sei viver

É...

Sabem o que é pior do que uma sexta à noite em casa?

É gostar disso, apesar de ter perdido o costume de passar as sextas em casa.

Sabem o que é pior do que gostar de ficar em casa?

É você perceber que gosta, porque tudo que faça te faz ter a mesma sensação de estar em casa. Ou seja, baixou a sensação de mesma coisa de novo... ô droga!
Preciso urgentemente de algo novo, da famosa "beleza que me arrebate".

sexta-feira, outubro 03, 2003

Amigos, Saudades e Luar

Em um dos momentos mais difíceis da minha vida, um amigo especial me fazia esquecer do mundo recitando poesias.
Em um dos momentos mais difíceis da minha vida, um outro amigo especial passou quatro dias em São Paulo e me ajudou a não virar pedra de vez, como não dava pra fazer como Macunaíma e ser estrela, voltei a ser "Luar"

O amigo que recitava poemas foi pra Belém. O amigo que me fez voltar a ser "Luar", voltou para Porto Alegre.

Hoje, vou trocar e colocar a foto de um Luar, tirada por quem me recitava poesias e colocar um poema que o amigo que me chama de Luar me mandou, dizendo que se parece comigo:

Soneto do Orfeu

Vinicius de Moraes

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.





Saudades Edu.
Saudades, Émerson.
Muitas.

quinta-feira, outubro 02, 2003

Até que a próxima novela nos separe

O congresso nacional sensibilizado e indignado com os maltratos de Dóris para com seus avós, votou, finalmente, o Estatuto do Idoso, submetendo sob regime de pena todo neto, ou filho, que siga o exemplo da moça odiadora das cabeças de cotonete que tanto eu quanto a Fulana amamos.

Segundo as minhas fontes infiltradas em Brasília, o próximo passo do nosso tão estimado congresso será votar o projeto da então deputada, agora prefeita, Marta Suplicy, não mais Suplicy. Contudo, o projeto será um pouco alterado, permitindo a união civil de pessoas do mesmo sexo, desde que sejam do sexo feminino. (A novela não colocou um casal masculino, então ainda não pode).

Não parando por aí, na pauta também está tentar resolver o problema dos trangênicos através das novelas, e ao que parece, já que Maneco não colocou nenhuma mulher apaixonada comendo soja trangênica, mesmo que alguns grupos de esquerda tenham feito um abaixo-assinado para que a causa dos problemas mentais da ciumenta passional fosse esse, a solução foi encomendar à Glória Perez uma novela que se chamará "Trangênico", aproveitando o sucesso de "O Clone". Já estão em negociações com Michael Jackson para que ele faça uma participação especial como o primeiro ser-humano a ser geneticamente modificado.

quarta-feira, outubro 01, 2003

É, Drummond...

É, meu velho, vai chegando seu aniversário e você vai colocando as manguinhas de fora. O que será dessa vez? Vai soltar a bruxa como no seu centenário me fazendo sentir completamente só?
Quem vai embora dessa vez? A quem vou ter que pedir em vão para que não se afaste, não se afaste muito?
.
E agora, Drummond, o que me aguarda?
Será que mandou "A Bruxa" me assombrar como castigo por ter feito, no ano passado, essa brincadeira com seu poema:

E agora, Maria?
O Salto quebrou,
O cartão de crédito estourou,
O povo sumiu,
A meia desfiou.
E agora, Maria?
E agora, Você?
Que tem mil sobrenomes,
Que esnoba os outros,
Mas não paga o que deve,
não ama, não pensa.
E agora, Maria?
Está sem celular,
Está sem dinheiro,
Está sem seu carro,
já não pode beber,
já não pode cheirar,
unzinho já não pode,
a noite esfriou,
seu casaco furou,
o dia não veio,
o táxi não parou.
Não veio a carona,
e a escova desmontou,
E agora, Maria?
Sua lipo,
Sua unha,
Seus remédios pra emagrecer,
Seu guarda-roupa não renovado,
Sua intolerância,
Seu parque de diversões - e agora?

Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Mas tá bêbada demais.
Quer ir a Maresias,
Mas ninguém te convidou.
Quer ir ao Shopping,
Mas o Shopping já fechou.
Maria, e agora?

Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você dançasse
A dança do Tigrão,
Se você dormisse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é uma instituição, Maria!

Sozinha no escuro,
qual caçador à caça
do próximo idiota,
Que pague suas contas,
Que a ofereça uma capa de revista
Pra aparecer nua,
Você espera, Maria.
Maria, o quê?

Juro que não acabo com seus poemas, nunca mais, meu velho. Foi só uma brincadeirinha inocente. Desculpa. Manda a bruxa sair daqui, vai... Sempre fomos tão amigos...