sexta-feira, outubro 29, 2004

A velha história de quem sonha

A menina que sonhava ser santa
entre os santos blasfemava
Sonhava entrar pela frente
e ser homenageada.

O menino que sonhava ser único
entre todos sempre estava
Sonhava ser grande
e entre os grandes queria ser deus.

A santa casou-se com deus
e seus sonhos se juntaram
fizeram o maior templo do mundo
na casa de esquina
da rua crucificada.

O menino, assim que enriqueceu,
fugiu com empregada.
a menina entra pela porta dos fundos
no templo que deixou de ser seu
quando o menino deus faleceu.

A santa agora é puta
deus está morto
e a empregada a dona da casa.




domingo, outubro 24, 2004

Eu já fui melhor

Eu já quis salvar o mundo, proteger as baleias que encalhavam nas praias, impedir que capivaras e garças chegassem aos rios poluídos de São Paulo e, principalmente, impedir que os amigos e alunos que tive na vida tivessem o fim trágico que a periferia lhes deu como única opção.
Eu já quis ensinar mulheres a dizerem um basta à violência do marido, ensinar crianças a ler, adultos a escrever, pessoas que povoaram minha infância e adolescência, que me pareciam diferente, que me pareciam abandonados e só estavam esperando a chegada de uma pessoa como eu: uma pessoa que se importava.

Hoje, com o passar dos anos, deixei de me importar. Chego no bar para comprar cigarro, se ouço que alguém morreu, não me choco, não me assusto, não sofro. Passo na rua, se alguém quer me dizer sobre algum conhecido da adolescência, prefiro não saber. Prefiro abstrair.
Melhor achar que não é comigo. Melhor achar que o mundo gira em torno do meu umbigo. Melhor aborratar minha casa de eletrodomésticos que me segurem em casa. Muito melhor ter relações efêmeras. Relações de elevador.
Não foi isso que todas as pessoas escolheram? Não foi isso que transformou São Paulo num imenso elevador cheio de rostos de espera?

segunda-feira, outubro 18, 2004

Passada rápida para tirar as teias de aranha

Falando em aranha, já leram minha novelinha? Não? Tá cheio de história nova, passem lá!
http://narrativafemina.blogspot.com

***
O Serra parece que vai ganhar e podemos dizer que serão quatro anos de "crônicas de uma morte anunciada".
***
Fernando Sabino morreu. O Superman morreu. Derrida morreu. Teve um sertanista que esqueci o nome que também morreu.
Um ser estranho aqui de Macondo, me parou na rua, quinta- feira, e disse: "Tomara que você morra".
Fiquei com medo.
***

Prepação para a Morte

A vida é um milgre
Cada flor
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada Flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo infinito.
O tempo infinito,
A memória é um milagre
A consciência é um milagre
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
-Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
(Manuel Bandeira)

domingo, outubro 03, 2004

Às vezes eu quero chorar, mas o dia nasce e eu esqueço.

Sem idéias, sem novidades, sem vontade. No mundo das vontades e representações, não codifico, não represento e nada desperta a paixão mais importante da vida: a vontade.
Trabalhando, estudando e exercendo meu direito obrigatório. Gerundiando ao som de Funk carioca, que ninguém é de ferro e às vezes precisa de um pouquinho de "Fama de putona" para aguentar o tranco.
A vida fala sobre morte: amigos queridos que morrem e deixa uma dor de bala achada; amigos que voltam através de tecnologias que vislumbram passados enterrados e trazem dor de bala perdida.

"Talento desperdiçado", meu irmão sempre diz isso sobre mim. Tem razão!
E estou desperdiçando meu talento em outro lugar, agora. Para não confundir a cabeça de vocês, juntei todos os posts da minha balzaquiana num blog. Como será difícil me encontrar por aqui, entrem lá e leiam minha novelinha, que é bem melhor que o dramalhão mexicano que é minha vidinha mais ou menos: