quinta-feira, agosto 11, 2005

A Amante

São Paulo é uma cidade que permite amantes. A minha era o Rio de Janeiro. Sempre que podia, mesmo que rápido, dava uma passadinha lá. Ainda que tivesse só algumas horas, tinha que dar um beijinho e um "vem cá, minha nêga" tão carioca. Nem Salvador tem um "vem cá, minha nêga" como o Rio. Ou melhor, tinha... Na minha última ida, dei uma olhadela de longe, de leve. Fui olhá-la agachando, de ladinho e vi que havia algo diferente nos quadris. Olhei pro seu rosto e percebi que minha amante virou evangélica. Levou a saia ao pé, parou de depilar as pernas, desistiu do samba e agora espera ansiosamente pelo Pastor Jones não sei das quantas.
Ganhou mania de grandeza também, fala metade inglês na Barra, metade português no morro.
Ainda amo minha nêga, mas desencantei. Recepcionou-me na porta da igreja com uma camiseta do tal pastor. Ah! Que saudade daquelas camisolas descaradamente transparentes com a qual me recebia há alguns anos! Vou ter que arrumar uma outra amante. O calor do Rio de Janeiro ainda está na minha mente, não há, ainda, como substituí-la em dias quentes. Contudo, creio que Porto Alegre me fará mais alegre nos dias frios.
Porém, Recife tem me feito sonhar. Um amor ainda platônico, devo convessar. Ainda não cheguei junto, mas quem sabe em breve eu arrumo uma amante para o ano inteiro, inverno e verão, como um dia foi o Rio de Janeiro que, apesar da saia longa, da perna peluda, que mostra agora, tenho certeza que logo volta ao terreiro para sambar e a ser lindo, como sempre foi.
Enquanto não volta, acho que eu vou... vou pra Porto Alegre, Tchau! Antes de ir, vou perguntar a Recife se eu tenho alguma chance...

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