domingo, julho 25, 2004

É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi.
 
No centro velho de São Paulo o rosto de espera do paulistano fica mais exposto. Há gente que passa e a pressa contagia até quem não tem compromisso.
Há gente bonita e gente tentando se enfeiar. Há gente que se esconde e quem faça de tudo para aparecer.
Há homens do meu tamanho, mulheres com 1,80m. Há meninas que parecem meninos de mãos dadas com meninos que parecem meninas.
E todos esperam a multidão passar para se sentirem sós no meio dela, outros para se sentirem únicos, alguns, apenas mais um.
Há prédios lindos que ficaram feios, prédios feios que todo mundo diz que são lindos. Ruas sujas e garis sentados. Ruas limpas e garis varrendo.
Há velhinhos dormindo, alheios a tudo e todos. Homens que se transformam em estátuas na esperança de parar os passantes, sem muito sucesso.
Homens que correm de um lado para outro, no centro de uma roda formada pela multidão estática, abismada e achando muito engraçada a correria. Paulistano gosta de espelho. Paulistano gosta de rir de si mesmo, enquanto espera.
Paulistano espera porque sempre está a caminho.
Na estação Sé, se não tomar cuidado, sai do outro lado. Dentro do metrô, espera a estação que se não tomar cuidado, desce na errada. Na rua, espera o trânsito passar, o ônibus chegar, os passantes diminuírem.
E quando se cansa de esperar, pode passar no bar do Léo, no bar Brahma, ou em qualquer boteco do centro, porque tudo é perto e tem uma estação de metrô em cada esquina.
Ou tudo é longe, mas tem tanta gente esperando, que parece que tudo é perto e fica ali na esquina, atrás daquela moça vendo pente, ou do rapaz vendendo chocolate.
Vai no bar para esperar o cansaço passar. Toma um chope para esperar o stress ir embora. Senta e espera... fica em pé e espera...
Paulistano espera.

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