sábado, agosto 09, 2003

Minha Pátria é a língua Portuguesa

Pessoas é tão maravilhoso que elegeu uma língua para ser sua Pátria. O mais impressionante é que, apesar de ter o Inglês como língua falada durante a infância e adolescência (saiu muito cedo de Portugal), escolheu o português. Talvez, se tivesse escolhido o Inglês, estivesse, hoje, encabeçando as listas dos maiores poetas de todos os séculos. É o que acontece, por exemplo, com o nosso Machado de Assis que começou o romance moderno, antes que as vanguardas iniciassem na Europa e não é incluído em qualquer lista feita peles europeus.
Iniciou a escolha por um narrador em primeira pessoa que colocasse em dúvida o que é narrado, entregando a nós, falantes da língua portuguesa, a grande dúvida se Capitu traiu Bentinho ou não. E, como é um grande escritor, transformou a traição em apenas uma forma de ler o livro, que traz nas entrelinhas inúmeras qüestões. E falo apenas de um dos seus romances.
Nós falantes da língua portuguesa temos, portanto, o privilégio de fazer parte da Pátria de Pessoas, de Machado e de tantos outros escritores que fizeram de sua Pátria, a língua, um melhor lugar para se viver.
Mas além do privilégio de habitar entre os grandes, temos o privilégio da saudade e é dela que quero falar.
Saudade, os povos de outras Pátrias, outras línguas, tentaram tirá-la de nós dizendo que pode-se traduzir para seus idiomas essa palavra que é de difícil tradução até pra nós que sabemos tanto o que é, mas não nos demos conta das tantas coisas que pode ser.
Saudade pode ser também uma lembrança do passado, mas não descarta a possibilidade de ser uma aspiração futura.
Hoje, minha saudade se confunde entre as lembranças passadas, aspirações futuras e a estagnação do meu olhar sobre o meu mundo e minha casa. Sinto saudade de uma casa que nunca vi, em que nunca estive e não sei bem ao certo como é, mas sei que é a minha casa. É como Álvaro de Campos em seus poemas "Lisbon revisited", (1923, 1926), saudosista em seus primeiros trabalhos, ao revisitar o Tejo e não enxergar o Tejo de outrora, muito menos o Tejo de agora. Lisboa não era sua casa, embora fosse, minha casa não é minha casa, embora seja. O Brasil não é minha Pátria, apesar de ter nascido aqui. O Líbano também não é, embora eu tenha traços muito mais libaneses que brasileiros.
E eu crio uma História para mim, como os escritores portugueses criaram para Portugal, que não é a realidade, mas sinto saudade e vivo das lembranças dessa História tal qual Portugal sente falta de seus grandes feitos realizados apenas nas páginas da literatura, sobretudo, nas dos "Lusíadas" de Camões.
Espero a volta de um Dom Sebastião que nunca fez nada por mim, que já morreu, mas que sempre será o grande Imperador do meu Império de Sonhos, habitando meu castelo de cartas.
Ao menos, minha Pátria é principalmente a língua portuguesa e nela impera grandes reis com grande feitos originados em simples junções de palavras. E essa saudade é orgulhosa e tem razão de ser.

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