sexta-feira, junho 13, 2003

Análise.

"Eu consultei e acreditei no velho papo do tal do psiquiatra que te ensina como é que você vive alegremente, acomodado, conformado de pagar tudo calado, sem bancar o empregado, sem jamais se aborrecer"
(Raul Seixas)


Cheia de problemas, sem querer sair da cama, decidi que deveria buscar ajuda de um profissional. Fui ao tal consultório que haviam me indicado, o nome da analista era algo que eu não conseguia decorar.
Cheguei, entrei e reparei que não havia um divã. Estranhei, sempre achei que nesse tipo de consulta era obrigatória a existência de um divã. Na mesa, várias caixas de bombons vazias e várias cheias. O consultório cheirava a chocolate, em todos os lugares se encontravam papéis de bombons ou bombons, muito facilmente.
Comecei a falar sobre o que havia me levado ao seu consultório e ela parecia prestar muita atenção. Tinha um sorriso constante no rosto, usava roupas coloridas e parecia ser muito alegre.
Quando estava terminando a terceira caixa de chocolate, perguntou-me:
- Namorado, você tem?
- Não.
- Por quê?
- Não sei.
- Deve ser porque você tem medo de se envolver. Quando foi a última vez que se relacionou?
- Há um ano.
- Por que acabou?
- Ele disse que não queria que eu me envolvesse.
- Hum... Você ainda consegue fazer as coisas do seu dia a dia?
- Sim, com dificuldade, pois não tenho vontade de sair da cama.
- É, você é bem forte. Como consegue com tantos problemas?
Achei estranho essa pergunta, afinal, eu achava que era ela quem deveria me responder.
- É que não penso muito neles, se pensar tento me matar pela quinta vez.
Ela arregalou os olhos, parecia ter ficado com medo de mim. Terminou a quarta caixa de bombom com uma rapidez incrível.
Ao final da sessão, não resisti e perguntei por que ela comia tanto chocolate.
- É que eu tenho 31 anos, dois filhos, sou casada . Meu marido não liga pra mim e eu me viro com chocolate.
Pela quantidade de caixas de bombons esvaziadas em 40 minutos de sessão, ela deveria estar na seca há mais tempo que eu.
- Você não come chocolate?
- Não, tenho alergia. Mas assim, você se conforma com isso?
- É, tenho que me conformar.
- Por quê?
Não respondeu, olhou o relógio e disse que havia acabado a sessão.



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