Lady Macbeth
Coloquei um anúncio para conseguir uma moça para trabalhar em casa. Não foi um anúncio de jornal, mas sim, um cartaz na ONG perto de casa. Algumas candidatas se ofereceram, mas uma, em especial, chamou-me à atenção.
Entrevistei-a na cozinha, lugar em que mais se trabalha nessa casa, para que se familiarizasse com a bagunça e tivesse certeza de que gostaria de trabalhar aqui.
Durante a conversa, a moça lavava as mão de forma compulsiva e as esfregava como se ainda estivessem sujas, mesmo após tê-las lavado. Era algo que eu não poderia deixar de reparar. Como tudo me dispersa, fiquei prestando atenção em suas mãos e no modo com que as esfregava, uma na outra, com movimentos sincronizados e repetitivos. Quando não as estava esfregando, as estava lavando. Os seus movimentos me dispersaram tanto que esqueci de perguntar as coisas necessárias para se contrar uma faxineira e prestar atenção no que a moça, com tanto fervor, dizia. Num determinado momento, não contive a vontade de fazer um comentário, aparentemente sem nexo para a moça:
- Você poderia fazer Shakespeare...
- Fazer o quê?
- Nada não...
- A Senhora falou um troço aí... Olha, a Senhora me respeita que eu sou moça de família e nem por quanto a Senhora vai me pagar eu faço esse troço aí...
Pensei em explicar-lhe, mas depois desisti. Seria pior, afinal, teria que dizer-lhe que eu a estava comparando com uma psicótica que lavava as mãos o tempo inteiro por ter matado pessoas. Não seria recomendado, e ela ficaria ainda mais ofendida.
Saiu enfurecida, dizendo:
- Esse povo estudado é tudo esquisito, quer a gente trabalhe e faça coisas de nome esquisito e nem diz o que é... fica calado, olhando pra gente, parecendo aqueles home que aparece na televisão que sai matando todo mundo.
domingo, junho 08, 2003
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