quarta-feira, junho 02, 2004

A lamentável história dos namorados*


Estava conversando com minha mãe sobre o dia dos namorados que em quase o mundo inteiro é 14 de fevereiro, dia de São Valentin, e no Brasil dia 12 de Junho, um dia antes do de Santo Antônio.
Perguntei a ela em que data se comemorava o dia dos namorados no Líbano e ela repondeu-me que não se lembrava de ter tal data.
Brincamos que árabe não namora, casa, mas na época dela e, principalmente na do meu pai, não namorava mesmo Aliás, no mundo inteiro, namoro é algo novo.
Em algumas línguas, a palavra namorado é designada pelo pronome possessivo na frente da palavra amigo. Namorado, consequentemente, é um amigo do qual temos uma certa posse.
Comecei a pensar, então, nessas instituições e nomenclaturas que o mundo foi criando para poder trepar sem culpa (imposta pela igreja) e dividir a grana sem medo (imposto pela elite).
Na evolução dos comportamentos, casamento sempre foi um negócio, mas como era um negócio arriscado, inventaram o noivado, para os pais terem certeza do investimento de seu dinheiro e para os interessados, especialmente o homem, terem certeza de que daria para encarar o contrato sem a rescisão do mesmo, que no mundo cristão era proibida. Nos países de cultura islâmica, sempre pôde rescindir o contrato, e por isso, o noivado é mais curto, apenas o tempo de pagar a metade do valor da noiva - a outra metade vem no divórcio, porque árabe sabe fazer negócio e divórcio.
Quando permitiram o divórcio, no mundo cristão, casamento tornou-se ainda mais arriscado, porque os homens teriam que sustentar suas esposas pelo resto da vida, ainda que arrumassem outra. As mulheres, por sua vez, ficariam faladas e de Senhoras de respeito passariam à prostitutas apenas pela rescisão. Por isso a amante que já era instituição, passou a ser necessidade.
Resolveram, então, parcialmente o problema, inventando o namoro, ainda não como é hoje, mas também não como o famoso: "só podíamos trocar olhares e pegar na mão", que seus avós, ou bisavós, contavam. (Digo seus, porque os meus avós são do século XIX).
Mais tarde veio a liberação sexual, surgiram os contratos pré-nupciais e as mulheres divorciadas ganharam mais status que as solteiras pós 30 anos, ainda mais porque o divórcio passou a ser um ótimo negócio para elas. Quem não se lembra da frase do filme "Clube das desquitadas": ?Não fique raiva, fique com tudo.?
O mundo, a partir daí, foi caminhando para o sexo casual, o casamento sem papel e as amantes perderam sua utilidade, tornando-se dor de cabeça por conta da lei do concubinato e do teste de DNA. Estão aí os pagodeiros e jogadores de futebol que não me deixam mentir.
Já os amantes (tanto das mulheres quanto dos homens que não têm coragem de sair do armário), que antes eram os mais escondidos e candidatos prováveis a terno de madeira, incorporaram-se na sociedade com o nome de personal trainer, a profissão do futuro: salário fixo e sexo garantido.
Agora pergunto, depois de toda a mudança dos costumes, o namoro como fica? E aos namorados que sucede?



*Nome do poema de Drummond citado. Infelizmente não consegui achar o poema inteiro na net. Está no livro "Amar se aprende amando" - se você quiser ler inteiro, só pedir, como sempre.

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