segunda-feira, julho 21, 2003

Ah, Drummond!

Ah, meu velhinho cabisbaixo e pensativo, como tem invadido minha história nos últimos meses, nos últimos anos, nos meus 26 anos...
Ah, meu amigo, o que será que você quer de mim, mandando-me tantos avisos?
Aos nove anos de idade, mostrou-me que era proibido sonhar, aos 15 colocou-me uma pedra no caminho e aos 17 deixou-me sem graça sussurando erotismos.
Depois, por sua causa apaixonei-me por "Possibilidades". Seu amigo possível, tornou-se impossível, escancarou -me despudorado em Pça Pública, deixou-me a ver navios partindo, e você nem sequer me consolou. Ele se foi e só os versos ficaram. Só os nossos versos: os meus, os dele e o seus.
Ganhei uma filha da Minas que não há. Leva-me à essa Minas. Leva-me a você. Ela veio, mas se foi e agora vai pra mais longe. Cativou-me, guiou-me, ensinou-me o jeito mineiro de ser. Ensinou-me o amor de mãe e a tristeza de ter seu filho longe, de ter que se afastar. Ela se foi e ficaram os versos, o amor, a espera, a gravidez e um sentimento do mundo. E mais distância nesse meu "eu" que ama e falta.
No seu centenário, conheci um menino de olhos procuradores que odiava poesia e amava você. Como não amál-lo? Não é necessário gostar de versos para se apaixonar pelos seus, não é necessário ser conhecedor para encantar-se com seu conhecimento deles. Basta ter olhos que procuram a dor e a procurando, não há como não ir ao seu encontro. E mais um a nunca mais ver.
Nos últimos meses,ou melhor, nas segundas dos últimos meses, suas obras completas na minha mão, um amigo novo e querido na minha frente. Lindas afinidades poéticas, grandes amores compartilhados através dos versos. Os mesmos versos, em uma ocasião, o mesmo nome. E você, Drummond. Você, suas obras completas e uma das pessoas mais lindas que conheci na vida. E agora, ele também se vai. Fico me repetindo: Belém é logo ali. Mais um a se afastar e talvez nunca mais ver.
E agora, meu amigo, Itabira me invade. Uma fulana errada que me acertou em cheio! Amizade de infância, iniciada ontem. Coincidências bizarras, já diria alguém, nos fizeram próximas. Ela procurava você e achou a mim. Mais coincidência foi conhecer o amigo dela que procurava Beatles e esbarrou em mim, que acabou me mostrando invasões drummondianas na besouromania. Mais Itabira, mais gente que me remete a você. E como não ser guiada ao seu encontro, se todos os caminhos que pego chegam até você? E mais pessoas que talvez não veja nunca, que nunca mais verei.
É Drummond, mesmo quando me afasto, vamos de mãos dadas, porque me pediu: "Não nos afastemos/não nos afastemos muito". Todos se vão, mas você fica.
Ah! Drummond, eu tenho caminhado melancólica e vertical demais. As luzes têm se apagado e o meu grito continua aqui, preso na garganta, esse meu calcanhar de Aquiles. E só você o conhece, só você sabe dessa tristeza de amar no escuro. Mais ninguém saberá.
Será esse o aviso que tem me dado, colocando tantas pessoas que me levam a você? Será que quer me dizer que as luzes irão sempre se apagar e todos irão se afastar, mesmo os que chegaram agora, como os que já foram?
Ah! Essa cidade de São Paulo, 10 milhões de habitantes e eu nem precisava tanto! Precisava de amigo. Um amigo como você, Carlos.
Não nos afastemos, Carlos. Não nos afastemos muito.

Nenhum comentário: