quarta-feira, julho 30, 2003

Auto-ajuda

Estavam todos no salão sentados em cadeiras que formavam um círculo e rodeados por cartazes com frases do tipo: "Você é bom"; "Você pode"; Você faz", entre outras.
Marco chegou atrasado. Nunca chegava atrasado e as pessoas estranharam, sentiram sua falta nos primeiros dez minutos de reunião. Chegou todo de preto e interrompeu o depoimento de Lúcia, sua amiga de infância, que o apresentou ao grupo. Chamavam-se D.A, depressivos anônimos.
Logo que entrou, topou com o cartaz em que estava escrito: "Já disse que ama aquela pessoa hoje?". Teve um crise de choro. Todos correram para socorre-lo e Lúcia deixou que ele fizesse o seu depoimento, antes do dela.
- Olá, meu nome é Marco Antônio e eu estou deprimido.
Meu avô morreu e hoje foi o seu enterro. Estou triste, porque eu estava brigado com ele e nem fui visitá-lo no Hospital. Eu não disse que o amava. Ele morreu e..
Lúcia interrompeu e gritou:
-Ah, não! Você teve uma crise de choro por causa do seu avô?
-Ué, qual o problema?
- Todos! Você foi criado por ele e o velho só te batia. Te maltratava e o obrigava a trabalhar para sustentá-lo. Foi seu carrasco e ainda te obrigava a pedir "abenção" todas as noites, como se ele pudesse abençoar alguém. Marco, você está nessa droga de grupo por causa dele. Você se sentia obrigado a cuidar dele, porque ele fazia chantagem emocional, porque seus pais te deixaram com ele. Jogava na sua cara que seus pais te abandonaram. E agora você vem chorar por ele? Ah! Não.
Todos bateram palmas para Lúcia e a coordenadora do grupo disse que ela estava inciando a sua melhora.
Marco foi aconselhado a procurar ajuda médica, não estava bem. Seu caso era realmente grave, pois freqüentou por um ano o grupo e nunca tinha falado sobre a relação com seu avô.



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