quarta-feira, julho 23, 2003

Receita de Bolo:

Li uma vez que as pessoas preferem receitas de bolo à poesias. Vai um bolo aí?

Quando a inspiração me arrebata
Deixo-a passar
Espero um pouco
Deixo a vontade à espera
como quem coloca fermento
e deixa a massa descansar.

Escolhos uns substantivos
prefiro os abstratos
para deixar um gosto
indefinido
inexplicável.

As medidas não sei
faço de olho
de reparo
Um Paulinho aqui
um Chico ali.
E de repente
um João.
Vários, aliás,
o Cabral, o Possível,
Gilberto para trilha.
E a Ana.
Não a esqueço, mesmo na ausência.
A língua
Dos Andrade na media certa
de um Mário, brasileiro, de outro, português.
Pessoas, todas. Álvaro mais,
Ricardo, sempre lembro.

Carlos não pode faltar
a bruxa por minha conta
a borra por Manoel.
os barros da minha vida,
vitrines de multidões
nas galerias de Baudelaire
nas retinas de uma paulista.

Não os misturo
apenas os sinto
na dor de um homem
a dor de Paulo
Fingindo.

Muito fingimento
levado ao forno
de muitos graus
Muito fogo.
E ao fim,
água
para acordar do sonho.

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