domingo, novembro 16, 2003

Eu e a bola

Desde menina que sou apaixonada por futebol. Não tanto quanto meu irmão, cuja primeira palavra foi "GOL", mas sempre fui encantada por esse jogo que, aparentemente, não agrada as mulheres.
Estranhamente virei torcedora de um time que não é do meu estado, que há muito tempo não ganha coisa nenhuma e, pela lógica, não faz sentido nenhum ser torcedora do Fluminense. Já inventei milhares de desculpas, entre elas a sonoridade de "FlaFlu" e daí ter escolhido Flu, o fato de Chico Buarque ser tricolor, também já foi uma de minhas desculpas e, a mais romântica delas, que eu chamo de uma espécie de explicação mitológica: "não explica nada, mas que é bonita, é", foi o fato de ter nascido na cidade de São Sebastião, no mês de Janeiro e em plena balsa. Então quando me perguntam: como uma paulista pode torcer para um time carioca, eu respondo que não sou da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, mas sou da cidade de São Sebastião do mar de Janeiro.
Como vocês podem ver, essa explicação não tem fundamento algum, mas é bem bonitinha. E se você, caro leitor do sexo masculino, estiver pensando que isso é bem coisa de mulher que não entende nada de futebol, sinto decepcioná-lo, mas se há alguma coisa que eu entendo é futebol. Poucas coisas em mesa de bar me deixam tão à vontade quanto falar sobre o meu Flu, ou qualquer outro time que esteja em pauta.
Lembro-me de um quadrinho de "As cobras" do LFV, em que uma dizia à outra:

- "A Terra é redonda e chata nos pólos.
- É, e nos domingos sem futebol".


Há um tempo atrás, eu concordava plenamente, pois eu odeio Domingo e sem futebol então me dá depressão. As únicas coisas que me fazem sair de casa nesse dia são quando tenho que me despedir de um amigo, ou ir ao estádio ver um jogo. Uma das minhas maiores frustrações é nunca ter ido ao Maracanã. Contudo, hoje em dia, o futebol e o Fluminense não me trazem tanto prazer como antes - aliás, prazer é a melhor palavra para definir um GOL de seu time em final de campeonato.
Eu poderia dizer que isso acontece porque esse campeonato de pontos corridos é racional demais para o futebol brasileiro, a coisa fica matemática: o time ganha e calcula quando pode perder, e isso tem muito mais cara de europeu. Poderia dizer que é porque o Flu está ruim das pernas, quase caindo de novo, mas também não é, afinal, está muito mais emocionante a expectativa pra saber quem vai cair (além do Grêmio), que saber quem vai ganhar, embora eu tenha certeza de que o Payssandu está louco para reviver o clássico Paraense, PayssandyXRemo, e vai cair para série B, deixando o meu Flu em seu devido lugar. Além disso, o Flu já caiu até pra série C e eu continuei acompanhando e me empolgando, sem me importar com tiração de sarro de Juventino. (Pois é, até torcedor do Juventos tirou uma da minha cara e eu continuei fiel e apaixonada por futebol e pelo Fluminense.)
Poderia dizer que é saudade do futebol "moleque", do amor à camisa, e todos esses adjetivos que cronistas esportivos adoram dar para o jeito de jogar do Pelé, do Garrincha e do povo das antigas. Mas eu não vi nem a Copa de 70 (em vídeo não vale), que dirá as que o Garrincha jogou. A probabilidade de que eu viesse ao mundo, quando ambos estavam no auge de suas carreiras futebolísticas, era tão remota quanto a que eu tenho hoje de ganhar na loteria. (Um dia explico porquê).Vi a copa de 82, a de 86, vi Zico jogar, isso é um orgulho sim, só que não é o motivo do meu desencanto.
Meu desencanto é tão inexplicável quanto eu torcer para o Fluminense e agora que ele voltou à série A eu acompanhar menos os seus jogos do que quando estava na série C, e ter um gol de barriga, do atual técnico do Flu, como um dos mais bonitos que já vi. É tão estranho quanto o Eduardo ainda achar que o Grêmio tem chance de não cair. É tão esquisito quanto jogo do Flamengo ou do Corinthians com só meia dúzia de dois ou três torcedores com cartazes para aparecer na TV. É tão sem sentido quanto o Santos com poucas chances de vencer o campeonato. É tão sem noção quanto a reeleição do Eurico Miranda no Vasco. É tão idiota quanto Galvão Bueno gritando "Ronaldinho" na Copa do Mundo. E, na verdade, é tão chato e triste quanto domingo sem futebol!

Nenhum comentário: