quarta-feira, novembro 19, 2003

Lembram dele?

Para não deixar meus queridos dois leitores sem textos, um antigo de novo...
Ah, seu Zé virou roteiro para um curta, se alguém quiser filmar, entra em contato comigo.



Cê precisa conhecer "seu" Zé Leão.

Estava eu no ponto de ônibus, o de sempre, quando precisei entrar no bar do Barbosa para pedir fogo. Nunca tenho como acender meu cigarro, Barbosa já está acostumado. Pedi um isqueiro, desde que um cara do ponto me disse para não pedir fogo para um homem, sempre digo isqueiro ou faço um sinal. Barbosa me deu um fósforo e começou a puxar assunto. Eu estava sem pressa, ficamos conversando.
- Você precisa conhecer "seu" Zé Leão. Sabe aquele home grande que tava aqui?
-Qual, o de camisa azul?
- Ele mesmo, é o Zé. Home bom, eletricista, o melhor do bairro. O único problema é a Creuza.
- Quem é Creuza?
- A mulher dele, bate nele. Coitado do Zé, sustenta a família inteira, criou os filhos. Home bom, eletricista, o melhor do bairro. E a Creuza bate nele. Eu falo pra ele: "Zé, ela te bota chifre, home!", mas ele nem responde. Vai pra casa, coloca o salário todo na mão dela.
- Ele num liga? - comecei a me interessar pela história.
- Liga nada, a Creuza bebe todo o salário dele, bota chifre nele e pra ele tudo bem. Cê precisa conhecer ele, home bom, eletricista, o melhor do bairro!!! Criou os 2 filhos, tudo moço bom, um tá até na faculdade. Outro dia a Creuza veio aqui beber, num deixei. Afronta! Vem gastar o dinheiro do Zé no meu bar? Num deixei e nunca vou deixar. Ainda veio com um dos macho dela, afronta das braba. Eu avisei o Zé, mas ele nem disse nada. Também, ela bate nele. Outro dia, garrou no pescoço dele e num largava.
- Ela deve ser forte, um homem daquele tamanho.
- É nada, a mulé é baixinha e magrinha. Também não come, só bebe pinga. Mas o Zé Leão é home bom, não faz mal nem pras moscas. Só entra em briga pra defender os filhos e a vagabunda da mulé dele. Ele num gosta que eu fale assim, mas é vagabunda mesmo. Afronta! Vem beber no meu bar, o marido dela é meu amigo. Foi ele quem fez a fiação todinha daqui. O home trabalha bem... é o
- Melhor do bairro, né?
- É sim.
O ônibus chegou. Despedi-me do Barbosa e entrei. Os motoristas da linha já até me conhecem, tem dia que não preciso nem dar sinal.
Dias depois o Barbosa me chama pra dentro do bar:
- Num apareceu mais.
- É que consegui carona com uns amigos.
- Cê num sabe o que aconteceu.
- O quê?
- A Creuza morreu.
- Seu Zé quem a matou?
- Não, e o Zé é home de matar alguém?
- Pelo que o Sr disse, não mesmo.
- Quem matou foi o amante dela.
- O amante?
- Um dos... Ele conheceu o Zé, ficou com dó dele, não achou justo o que ela fazia. Pegou raiva quando, aqui mesmo no meu bar, ela veio beber e trouxe outro macho.
- O amante ficou com ciúmes?
- E quem vai ter ciúmes daquele bicho feio? Ficou é com raiva, pegou a Creuza pelos cabelos e disse na minha frente: "Cê num vale nada, mesmo, tem um marido igual ao Zé e fica aí desfilando com um monte de macho que só te usa pra pagar a pinga, eu mesmo fazia isso, mas não vou fazer mais. Seu marido é um home bom, é o melhor eletricista do bairro. Não merece".
- Nossa, ele gostou mesmo do "seu" Zé.
- E quem não gosta do Zé, home bom igual aquele... O cara saiu daqui levando a Creuza pelos cabelos, dois dias depois encontraram a mulé morta lá no matagal perto da igreja.
- E o amante?
- Ninguém mais sabe dele.
- E o "seu" Zé?
- Vive chorando pelos cantos, mas tá melhorano. Cê precisa conhecer o Zé Leão...
- Eletricista, o melhor do bairro, né?
- Anrã! E olha, quem conhece o Zé gosta muito dele.
- Eu tô vendo...

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