quarta-feira, novembro 05, 2003

Expectativa e literatura

Não estou feliz por ter perdido o romance, mas não estou sofrendo tanto quanto eu poderia estar sofrendo. Sofro por uma criação minha ter ido embora, não porque uma possível carreira literária pode ter sido encerrada, porque ela jamais começaria.
Não estou sendo dramática ao dizer isso, apenas é uma constatação. Não sou boa o bastante e se sou, não tenho amigos o bastante para que um dia eu construa uma carreira literária. Além disso, a minha ficção parece não despertar interesse nem nos meus amigos, que dirá em pessoas que não me conhecem. Enfim, estou numa fase de querer parar de me agarrar às impossibilidades e encarar as possibilidades que a vida tem me apresentado.
Foi difícil começar a fazer uma faculdade, uma luta ainda maior continuar a fazer. Sou uma pessoa que não consegue fazer nada direito (o direito aqui está no sentido de seguir regras, ter uma disciplina...), mas nos meus caminhos tortuosos conquistei algumas coisas e é no que conquistei que quero me apegar.
Não quero criar expectativas mais, não quero ter que adequar meus sonhos o tempo inteiro. Cansei de ter que chorar no final, porque os sentimentos me impediram de alguma coisa. Deixo acontecer e o que a vida me trouxer, está bom. Os meus sonhos me fizeram sofrer demais, as imagens que criei para o meu mundo, a todo momento se mostram deformadas pela realidade.
Nietzsche dizia que "a Arte existe para que a realidade não nos destrua", mas a Arte tem me destruído mais que a realidade, pois percebo que as pessoas prestam muito mais atenção nas coisas que falo sobre mim, do que sobre a minha pseudo literatura.Não falo desse blog, falo de um contexto geral e isso tem me feito querer parar de sonhar.
Quero sofrer por amor, quero chorar por uma queda no ônibus. Não quero sofrer por sonhos vãos de um dia parar de escrever pra mim mesma, não quero chorar por quebras de expectativas vãs...
Agradeço a quem me ofereceu ajuda e aos que ficaram preocupados com o fato de que eu "perdi o gosto pela coisa", achando que estaria infeliz. Acho que sem expectativas não há frustração e certamente eu me sinto livre, ao menos. Daqui um tempo, talvez, mais feliz.

O Menino Experimental disse hoje: "O mundo não precisa de mais um cético" - ele tem razão, mas eu preciso, nesse momento, ser mais cética com relação ao mundo.

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