As coisas que beijei e não vivi
Creio que tudo está virando carta neste momento em que exorcizo um ponto obscuro da minha vida. A paixão inicial que se transformara em obsessão, hoje não passa de uma necessidade para me livrar de quatro frustrações, pontos que marcam uma divisão de olhar.
A cada segundo que passa tenho medo de chegar aos 30 anos, devo confessar, embora faltem poucos dias para isso. Estou com medo de envelhecer, medo da passagem dos anos e das horas.
Não é uma questão estética, não me importo com a lei da gravidade. Se meus seios não estarão firmes, se minha bunda cairá, ou mesmo se terei rugas e nenhum homem se interessará por mim. Nada disso me importa, nunca me considerei uma mulher bonita e atraente.
A única que vez em que um homem elogiara exaustivamente meus dotes físicos, contrariou-me tanto que sentia-me como um pedaço de carne, pronta para o abate, mesmo fazendo um esforço enorme para que ele só me enxergasse assim.
O medo dos 30 anos é maior que os valores sociais, estéticos ou algo do gênero. O medo dos 30 anos nasce de uma obsessão e parece se aproximar o momento de romper com a necessidade da intensidade. Chega o momento em que a dor não tem razão, a tristeza e o pessimismo me enojam. O asco pelo descrédito é tanto que chego a acreditar-me incapaz de enxergar um caminho para fugir do guarda-chuva em céu de brigadeiro. Sinto asco de tudo que construi.
Mulheres entram na minha vida para que eu elimine-as dela.
Um basta em literaturas tristonhas...
Quero uma casa de filme americano, filhos e um marido chegando com pão frequinho para tomar café.
Quero, pela primeira vez, não achar essa cena enfadonha e entediante.
Beijos
Maria da Silva.
PS1 - é tão interessante perceber que um texto em primeira pessoa se faz autobiografia, mesmo não sendo.
PS2 - O dia em que as pessoas descobrirem diferença entre narrador/autor, personagem/pessoa, poeta/eu lírico, acho que acontecerá um suicídio coletivo de intelectuais, leitores de blogs, jornais e "fantes" da vida...
quarta-feira, maio 05, 2004
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