quarta-feira, maio 19, 2004

O olho de Miguilim

Tá, eu sei que isso aqui virou "o diário da donzela pós-moderna, pós pós modernidade". Mas tenham paciência com essa quase Balzaquiana que está em plena transformação do olhar.
Minhas vistas estão cansadas e quando fico de castigo, não tenho tempo para brincar de pensar.
Tenho colocado os óculos mais vezes do que de costume. Comecei a usá-los aos dois anos de idade, mas sempre dava um jeito de tirá-los em alguns momentos do dia, quando ver tudo com clareza me fazia mal. O problema é que mais gente, além do oftalmo, começou a reclamar da ausência dos óculos em meu rosto. Gritam e como castigo me obrigam a colocá-los, ao contrário de antigamente que me deixavam num cantinho da casa, quietinha. Era bom; brincava de pensar, pensava no pensar e não falava com ninguém. Podia ter a certeza de que minha tagarelice não estava incomodando. Até minha eterna "leve impressão de que já vou tarde" sumia e eu podia ficar comigo mesma. É bom estar só comigo.
Hoje em dia não posso mais desfrutar de minha companhia, a todo momento me chamam e eu tenho que estar de óculos. Repetem o tempo inteiro que preciso enxergar direito.
Ora! O embaçar das coisas, o vulto e a sombra alimentam meus pensamentos. Posso emprestar formas muito mais interessantes às coisas. Mas ninguém entende isso por conta dos famigerados 30 anos que batem à porta. Estou pensando, seriamente, em não atender.

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