quinta-feira, maio 27, 2004

As Dedicatórias

Eu sou uma profunda apreciadora de dedicatórias. Há alguns autores que, na minha opinião, deveriam dedicar a vida escrevendo dedicatórias. Um exemplo é Fernanda Young, afinal, quase todas as pessoas que conheço citam como uma das melhores coisas que a moça já escreveu aquela parte em que ela oculta o beneficiário e o motivo, dizendo apenas: "para você, por aquele dia".
Outra maravilhosa é de Gabriel García Márquez no livro "El amor en los tiempos del cólera". É de uma classe o modo com que ele alega a obviedade daquela dedicatória, como se todos os seus leitores tivessem por obrigação saber que seria " para Mercedes, por supuesto".
Quem é Mercedes não importa, porque o leitor não precisa saber, exceto os que têm fixação por biografias, contudo, tem a obrigação de saber que só poderia ser para ela, aquele livro que fala de amor de um jeito tão bonito e é considerado, por um grande amigo meu, seu romance de amor favorito. Tudo bem que eu nunca consigo lembrar-me de outro quando quero ser "do contra", mas essa dedicatória é, sem dúvida, a mais bela declaração de amor que já li. Só que, já diria Machado, não vale um beijo.
Falando em Machado, é dele, ou melhor, de sua personagem Brás Cubas, a mais incrível de todas:

"Ao verme
que
primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver
dedico
como saudosa lembrança
estas
Memórias Póstumas"

Nada mais inteligente que dedicar um livro ao verme, mesmo porque esse é o destino de quem o escreveu, de quem o lê e, do jeito que as coisas andam no mundo, de todo e qualquer livro que possa ser escrito.

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