Querido Diário
Querido diário,
As pessoas aqui dizem o tempo inteiro que fui eu. Mas não foi, eu juro! Eles falam que eu não sei controlar minha raiva e que quebro as coisas, mas é mentira. Eu não sinto raiva, querido diário.
Bem, pelo menos agora, eu consigo acordar sem ouvir gente brigando, acho que é por causa dessas coisas que parecem caixa de ovo. Em casa era todo dia uma briga, acho que por minha causa. Lá também me acusavam, diziam que tinha sido eu. Mas também não foi. A diferença é que quando eu falo que não fiz nada para as pessoas daqui, eles respondem: "não fez o quê?" Em casa não, eles sempre lembram.
Além disso, Napoleão, Romeu e Julieta sempre me defendem de todo mundo. Eles são legais. Romeu e Julieta sempre me dão presentes e chocolates para que eu fique na porta do quarto da Julieta enquanto Romeu entra lá. Sabe, diário, eu acho que a Julieta tem asma.
Napoleão brinca comigo todas as tardes e me conta histórias que ele mesmo inventa. Outro dia contou sobre um moço que foi internado pela família só porque ficou muito triste quando sua amada morreu. Ele sempre me abraça e me coloca para dormir. Às vezes chora muito. Acho engraçado o nome dele, Napoleão é um nome muito engraçado, né diário?
Aqui às vezes é legal, tem a dona Vera que me manda escrever diário, porque quando vou falar com ela, não digo nada. É que não tenho o que dizer, gosto de ficar olhando para ela. Dona Vera é muito feia, parece uma bruxa. Tem um cabelo grandão, usa umas roupas folgadas e fala devagar. Tão devagar que quando ela termina de fazer alguma pergunta eu já esqueci o começo e não sei o que responder.
Domingo é o pior dia, porque todo mundo recebe visita de parente e nem o Napoleão, nem o Romeu e a Julieta podem vir falar comigo ou me chamam para fazer alguma coisa.
A placa que está lá fora diz que aqui é um centro para pessoas especiais. Eu não acho que sou especial, ninguém vem me visitar.
sábado, outubro 18, 2003
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