Se está escrito é ficção:
Conversei ontem com o meu amigo inteligente de plantão. É muito bom conversar com ele, é também muito bom perceber coisas através de suas palavras. A cada noite que passo trocando idéias com ele, conheço-me mais.
Hoje li o blog que uma amiga minha havia me pedido. Tomei o cuidado para não me envolver nas palavras ditas e nem tirar conclusões sobre o assunto, pois escrever é um ato de fingimento e criação, por mais verossímil que se apresente o texto. É a famosa frase do filme Storytelling que sempre cito: "não importa se é verdade ou não, se está escrito é ficção". Contudo, é comum nos procurarmos em blogs de pessoas que são ou foram importantes para nós. E esse foi um dos assuntos da minha conversa e fazendo a ponte, comecei a entender a indignação da minha amiga em se reconhecer em um texto.
As pessoas entram em nossos endereços para ler as coisas que escrevemos sobre elas e, talvez, por não ser mais um diário guardado em segredo, isso se torne um ato cada vez mais obsessivo. Chega a ser necessário escrever sobre os sentimentos e, em alguns casos extremos, se alguém veta a possibilidade de ser citado em um blog, a paixão parece diminuir. O texto, o fingimento do amor, muitas vezes torna-se mais importante a quem escreve, do que o próprio sentimento.
Na outra ponta, as pessoas que entram nos blogs, se procuram nos textos, querem saber se é sobre elas, pensam naquela frase durante a semana inteira e ficam imaginando o que autor quis dizer. Uma música colocada por um motivo qualquer, às vezes pode ser a chave para uma resposta criada e sem qualquer relação com o verdadeiro motivo da música estar ali, e essa chave pode desencadear o fim de um relacionamento ou o começo de uma dor de cabeça.
As declarações de amor são feitas aos montes, pois como já disse, é muito mais fácil escrever que amamos, do que dizer. Contudo, é necessário que seja feita em um blog, não por e-mail, pois no e-mail só o destinatário irá ler. Parece que só terá efeito se houver comentários de outros, e o que o destinatário realmente pensa, não vale tanto quanto ter a caixa cheia de discussões sobre o amor que se está sentindo ou o sofrimento.
Texto políticos, textos de indignação social não são tão interessantes ao leitor que necessita saber sobre a vida amorosa , ainda que esta seja ridícula aos olhos de quem não ama.
E de repente, um comentário no blog de um ex-namorado, ocasiona uma briga com o atual que viu o link no seu blog. E de repente, um ex-qualquer coisa entra no seu blog e vê que você está sofrendo por amor, deixa um comentário para tentar animá-lo e você já pensa que ele (a) está tentando uma reaproximação ou que quer reviver algo do passado. De repente você cita alguém em seu blog, o outro vai atrás e outra briga achando que há algo por uma citação boba. (Às vezes me preocupo em me referir ao Pedro como meu marido, por exemplo, ainda bem que sua namorada me conhece e sabe o porquê da brincadeira). Uma cadeia de procura, uma cadeia de necessidade em saber da vida alheia que começa a nos incomodar, mas que somos parcialmente culpados por deixar exposto em palavra escrita nossos sentimentos. Embora fingidores, a escrita ganha força maior do que as palavras ditas. O que é fingimento e criação se transforma em verdade absoluta porque está documentado. Blog é diário, escrita é documento e autor é pessoa. Ninguém pensa que blog é uma página, escrita é criação e autor é narrador, mesmo que em primeira pessoa.
A não compreensão disso, até da minha parte que faço de tudo para deixar esse blog às moscas, ou melhor dizendo, para que só amigos me acessem, tem me assustado. Quantas vezes eu não me procurei no blog de alguém? Quantas vezes eu não me vi em textos que não se referiam a mim? Quantas vezes algo que eu gostaria que ficasse só entre mim e a pessoa foi escancarado em "net pública", ainda que tivesse permanecido no anonimato? Quantas vezes escancarei algo que alguém gostaria que permanecesse só entre nós?
Quantas vezes fui mal compreendida por algum comentário ou post? Quantas vezes entendi como ofensa algum comentário ou post?
Palavras escritas: perigosas e mentirosas. Não me procurem aqui, vocês se encontrarão.
sábado, janeiro 31, 2004
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