Então vamo lá...
São oito horas da manhã de Natal e eu estou aqui diante do computador. Meu Deus! meu relógio biológico tá maluco...
Tudo bem, isso não é o pior, muito menos é o que eu quero dizer.
Eu tinha um texto deprê sobre ratos para colocar aqui, mas hoje não, porque tem essa parada de espírito natalino em que todo mundo veste a capa da bondade e sai distribuindo sopa, presente, e a TV exibe filmes de Papai Noel, amor e matérias sobre solidariedade... (Ai, só em lembrar meu estômago embrulha. Mas a cachaça ajuda... bebi demais.)
Não vou estragar a maior festa cristã, ainda que sua data de comemoração tenha sido uma adaptação da festa pagã da religião romana: 25 de Dezembro dia do deus sol!
Isso que é antropofagia de homem branco! Especialmente o que NY fez com ela e o mundo tratou de imitar!!!
Que triste! Somos seres eletrodomesticados e nem sequer nos damos conta disso.
Não posso falar muito, tô doida pra "credicard" minha alma, mas, parafraseando Guimarães Rosa em Grande Sertão, o problema é que não tem quem queira comprar.
Enfim, espero sinceramente que o homem branco civilizado seja menos cruel, nesse ano que está chegando, e comece a respeitar todas as religiões, crenças e sonhos. Espero que no próximo dia 25 de Dezembro essa coisa chamada espírito natalino não fique só nas propagandas e filmes, pois se é aniversário de Deus, seja o que se fez homem, seja o que se fez sol, acho que os donos do mundo que comemoram essa data e dizem falar com ele, deveriam nos fazer entender melhor o que significa isso. Até hoje eu só ouvi falarem de dele para matar pessoas e, sinceramente, esse deus deles não deveria ter nascido e é melhor matá-lo antes que ele nos mate.
Feliz sábado para vocês que e vou tentar dormir um pouco.
Sabem, hoje eu comprovei empiricamente aquilo de movimento de rotação e translação da Terra.
Amém irmãos.
Fui!!!
sábado, dezembro 25, 2004
sábado, dezembro 18, 2004
Um dia eu tive um livro de visitas...
Name: Teu amor, sempre...
City POASent: 06.02 - 15/4
Por que tens, por que olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas, e sem fim
Quem és, que és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixãofêz-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma, que por ti soluça nua
E não és Tatiana nem Teresa:
E és tão pouco a mulher que anda na rua,
Vagabunda, patética e indefesa
Ó minha branca e pequenina Lua(r)
terça-feira, dezembro 14, 2004
"Posso resistir a tudo, menos às tentações"*
Um poema achado num caderno de dois anos atrás. A dúvida em entregar ou não. Ficar com a "Resposta" de Nando Reis ou deixar que o destinatário responda.
Um poema fora do contexto que não foi entregue na época, talvez não seja entregue agora.
Não sei... vou pensar.
"Don't leave the light on baby
I'll see you sometime maybe"
Um poema feito hoje no ônibus no caderno desse ano. A certeza de que não vou entregar. Sem dúvidas, sem pretensões, sem medo. Só a certeza da via de mão única e das impossibilidades....
Talvez daqui a dois anos eu ache esse poema e pense entregá-lo...
Não sei...
"I don't care if I'm alone here singing songs to myself
There's nobody else around, around"
* (Oscar Wilde)
As músicas são do disco "fold your hands child, you walk like a peasant" - respectivamente "Don't leave the light on baby" e "Women's realm".
É que depois de quase um ano, o disco voltou ao meu lar e estou ouvindo agora.
quarta-feira, dezembro 08, 2004
Gil e Jorge (Ogum Xangô)
Viciei nesse disco. Já tinha viciado há alguns anos atrás, mas essa semana, virou minha cachaça.
O disco É GENIAL. GENIAL. Daqueles que você só sabe dizer que ninguém pode passar pela Terra sem jamais tê-lo ouvido.
Vocês já ouviram? Não? Então ouçam!
***
TOM ZÉ É ZEUS!
Eu acho que não preciso dizer mais nada! Ouçam!!! Qualquer disco dele, ouçam!
(pena que a capa que eu chamo "o verdadeiro cu com acento" tá em versão reduzida aí)
****
Por fim, entrem no Tucupi que ele voltou a pegar fogo! Ter o Mms na área é sempre bom. Leiam meu amigo perdido na Amazônia. O link tá ali do lado.
Méms, Feliz Natal. Escrevi seu nome no quadro negro, junto com do Edy.
"Todo quadro negro é todo negro, todo negro, e eu escrevo seu nome nele só pra demonstrar o meu apego..."
E voltemos à desprogramação normal dessa dama que se desapaixonou tão rápido quanto o Rubinho quebra em corrida.
domingo, novembro 28, 2004
Yesterday I'm in love*
Eu tenho que fazer dois poemas até segunda-feira para duas pessoas que estão entre as pessoas que mais amo no mundo. Nada mais, nada menos, que os meus dois melhores amigos. Um de cada sexo... um de cada jeito... lembrar cada gesto...
Só tenho um problema: toda vez que eu tento, o poema fala de outra pessoa que não eles...
Alguém pode me dizer por que a gente fica idiota quando tá apaixonado?
Precisava compartilhar isso.
Outra boa pergunta: Por que quando a gente tá apaixonado, gosta de anunciar?
* Já leram "El Perseguidor" do Cortázar? É sobre um músico de Jazz que diz: Isto eu estou tocando amanhã.
Se você gosta de Jazz, gosta de música, leia. É bem legal.
O que isso tem a ver com o post? Nada... é que o título foi inspirado na frase "isto estou tocando amanhã", além disso, eu sou uma menina legal que gosta de dar dicas legais.
sábado, novembro 27, 2004
Perdida.
Momentos difícieis de novo. A nuvem negra que acompanha a minha cabeça, hoje choveu e tá com cara de que vem tempestade por aí.
Por outro lado, bons ventos o trazem, bons ventos me trazem. Tá tudo tão aborrotado, confuso, misturado. Dói e ao mesmo tempo não a sinto. A queda é livre, sem pára-quedas, mas há de ter uma cama macia me esperando.
E se não houver, não me preocupo. Há de ter um chão para que eu coloque meus pés nele...
Fico por aqui, na esperança de voltar com um sorriso, uma rosa e quem sabe, um homem azul...
domingo, novembro 21, 2004
Um Vazio que me agrada
Uma mulher macia
Alguém que me chama
na rua... prá cama...
Uma interrogação
Um macho no cio
Trepada na esquina
uma cena, o cenário
escuridão.
Uma mulher macia
Um macho no cio
mover sem paixão
fé sem reza
Sauna, cinemão...
Rostos, pernas
Contra luz
Siga em contra- mão
encontre a mão
que me chama
na rua, na cama
Augusta, Trianon
breco na saída,
na pressa sem prévia
de uma pré-estréia
em última exibição
macia
no cio
me chama
na rua, na cama
em pé
Consolação.
Sexo sem culpa
a interrogação
rostos e pernas
projeto de curta
filme na lata
sem projeção.
sábado, novembro 20, 2004
E continuar aquela conversa....
Noel na estante, Paulinho na viola sem cordas, Baudelaire no canto, Drummond na cabeceira. Você.
Chico no quarto inteiro, Raul no lustre, Belle and Sebastian nos sapatos, Nando Reis no balde vermelho, junto com as roupas. Você.
Fellini no DVD, Bogart em Casablanca, Woody Allen na fita gravada. Você.
Sinatra na lua, meu cobertor na cama, as letras no meu computador. Você.
Beatles, muitos Beatles... George no material de Sanscrito, Paul no centro, Lennon ao lado de Sean, Ringo nas estrelinhas colocadas no teto. Você.
Tom Zé na tesoura, Caetano no dicionário, Pessoas em todos os livros, Maiakóvski na coleção de cartões, Dali na de marca páginas. Você.
Mawaca no livro de Tupi, o cachimbo no cigarro e o cinzeiro na janela. Você.
Clara e Clementina vadiando, Cartola e o chapéu de palha na parede, Nelson, por falta de cavaquinho, no pandeiro, Cássia na caixinha de remédios. Você.
Gógol no guarda-roupa, Dostoiévski no capote, Goethe na encruzilhada. Você.
Calvino na China, minha mente no Tibet, Primo Lévi no campo de concentração, Pirandello no Hospício, Machado na varanda, na cozinha, na sala. Você.
As fotos no mural, as novas na impressora, as antigas na latinha de biscoitos de natal. Você.
Ainda não tenho foto, guardo na lembrança.
Estranho, mas já me sinto como uma velha amiga sua.
Mas será que nessa novela eu só quero ser sua amiga?
sexta-feira, outubro 29, 2004
A velha história de quem sonha
A menina que sonhava ser santa
entre os santos blasfemava
Sonhava entrar pela frente
e ser homenageada.
O menino que sonhava ser único
entre todos sempre estava
Sonhava ser grande
e entre os grandes queria ser deus.
A santa casou-se com deus
e seus sonhos se juntaram
fizeram o maior templo do mundo
na casa de esquina
da rua crucificada.
O menino, assim que enriqueceu,
fugiu com empregada.
a menina entra pela porta dos fundos
no templo que deixou de ser seu
quando o menino deus faleceu.
A santa agora é puta
deus está morto
e a empregada a dona da casa.
domingo, outubro 24, 2004
Eu já fui melhor
Eu já quis salvar o mundo, proteger as baleias que encalhavam nas praias, impedir que capivaras e garças chegassem aos rios poluídos de São Paulo e, principalmente, impedir que os amigos e alunos que tive na vida tivessem o fim trágico que a periferia lhes deu como única opção.
Eu já quis ensinar mulheres a dizerem um basta à violência do marido, ensinar crianças a ler, adultos a escrever, pessoas que povoaram minha infância e adolescência, que me pareciam diferente, que me pareciam abandonados e só estavam esperando a chegada de uma pessoa como eu: uma pessoa que se importava.
Hoje, com o passar dos anos, deixei de me importar. Chego no bar para comprar cigarro, se ouço que alguém morreu, não me choco, não me assusto, não sofro. Passo na rua, se alguém quer me dizer sobre algum conhecido da adolescência, prefiro não saber. Prefiro abstrair.
Melhor achar que não é comigo. Melhor achar que o mundo gira em torno do meu umbigo. Melhor aborratar minha casa de eletrodomésticos que me segurem em casa. Muito melhor ter relações efêmeras. Relações de elevador.
Não foi isso que todas as pessoas escolheram? Não foi isso que transformou São Paulo num imenso elevador cheio de rostos de espera?
segunda-feira, outubro 18, 2004
Passada rápida para tirar as teias de aranha
Falando em aranha, já leram minha novelinha? Não? Tá cheio de história nova, passem lá!
http://narrativafemina.blogspot.com
Prepação para a Morte
A vida é um milgre
domingo, outubro 03, 2004
Às vezes eu quero chorar, mas o dia nasce e eu esqueço.
Sem idéias, sem novidades, sem vontade. No mundo das vontades e representações, não codifico, não represento e nada desperta a paixão mais importante da vida: a vontade.
Trabalhando, estudando e exercendo meu direito obrigatório. Gerundiando ao som de Funk carioca, que ninguém é de ferro e às vezes precisa de um pouquinho de "Fama de putona" para aguentar o tranco.
A vida fala sobre morte: amigos queridos que morrem e deixa uma dor de bala achada; amigos que voltam através de tecnologias que vislumbram passados enterrados e trazem dor de bala perdida.
"Talento desperdiçado", meu irmão sempre diz isso sobre mim. Tem razão!
E estou desperdiçando meu talento em outro lugar, agora. Para não confundir a cabeça de vocês, juntei todos os posts da minha balzaquiana num blog. Como será difícil me encontrar por aqui, entrem lá e leiam minha novelinha, que é bem melhor que o dramalhão mexicano que é minha vidinha mais ou menos:
quinta-feira, setembro 23, 2004
VOTE PORRA!
Não, não é uma frase de um filme brasileiro da década de 70. É só o partido político que eu quero fundar. Quem sabe lançar a candidatura do PC Pereio.
A campanha seria algo mais ou menos assim:
(uma cena parecida com a dos filmes da década de 70 e o Pereio com sua voz de Deus* fala:
Vote PORRA! Vote 69!
Nem oposição, nem situação. Só uma posição.
Bem melhor que "meu nome é Eneas", não acham?
* Agradecimentos ao meu amigo Don que disse: "Se Deus tem voz é a do Pereio".
terça-feira, setembro 21, 2004
domingo, setembro 19, 2004
Se precisa de um amigo, arrume um cachorro!
Quando o presidente Figueiredo disse que preferia cavalo ao povo, todo mundo ficou horrorizado - não foi bem isso que ele disse, mas eu era muito nova para lembrar .
Devo confessar que nem lembro direito dele, mas às vezes concordo com essas afirmação, quero dizer, eu sou pobre demais para preferir cavalos, então troco para cachorros. De preferência vira-latas abandonados. Cada vez que alguém deixa um bichinho na Cidade Universitária, eu entendo menos a afirmação de que o homem é o único animal racional.
Eu falo dos bichinhos para não expandir o assunto e entrar em outras vertentes irracionais como o silicone, o voto obrigatório, o governo FHLula, o Bush filho, a escola russa, os homens- bomba, entre outros.
sexta-feira, setembro 17, 2004
Rápidas que hoje eu não tô boa:
Alguém aí pode me explicar por que o governo federal gasta dinheiro com propaganda e campanha para o brasileiro votar se nesse país o voto é obrigatório?
sexta-feira, setembro 10, 2004
Quarto em Desordem
Eu perco tudo e me perco em meio as minhas perdas...
Perco a cabeça e tudo se perde em pensamentos...
Eu acabo de perder algo importante e tô perdida
....
..
Sinto-me como uma criança que perdeu o dinheiro do pão e está com medo de voltar para casa, repetindo a si mesma: "Meu pai vai me bater!"
A criança tem tanto medo que fica dando voltas e acaba se perdendo.
terça-feira, setembro 07, 2004
Primeiro dia de Balzaca.
Foi como tinha de ser, uma reunião com os amigos mais íntimos. Parecida com a do ano passado, inclusive, com a diferença da presença dele, fazendo suas piadinhas, brincando com os meus amigos, sendo o centro das atrações como sempre. Parecia que a festa era para ele, e eu, a aniversariante, apenas uma coadjuvante. Algo como naqueles filmes em que o aniversariante só aparece porque se precisa de uma festa para que a estrela principal possa brilhar.
Esse ano, embora tenha sido uma comemoração agradável, não havia estrela do filme. Todos se divertindo bastante enquanto eu passeava de grupo em grupo, conversando sobre amenidades. Acho que minha vida pode ser resumida a isso: passear de grupo em grupo conversando amenidades.
Confesso que pensei que ele iria aparecer, de repente com um caranguejo na mão... Chegaria no meio da festa, sorriso lindo iluminando seu rosto de menino que fez arte, e roubaria a cena, como sempre fez.
Foi assim quando nos conhecemos. Num momento eu estava triste, sem saber o que fazer da minha vida, ele chegou e roubou a cena. Não lembro exatamente do que aconteceu, só lembro que quando me dei conta, estávamos andando de mãos dadas, sem que eu sequer tivesse percebido o momento em que ele pegou na minha mão.
Esse ano, deixou um recado na secretária avisando que teve que viajar, por isso não poderia aparecer. Foi cínico ao lembrar que eu não o convidei. Eu sei que deveria tê-lo convidado, mas ele me ignorou solenemente, logo após o término do nosso relacionamento, quando fui convidá-lo para uma festa. Fiquei arredia, foi inevitável. E, talvez, nem seja questão de orgulho, é o fato de que, pelo menos uma vez, eu gostaria muito de que ele tomasse a iniciativa. Durante todo o tempo eu tive que fazer tudo sozinha, até mesmo para que ele me tocasse eu tinha que trazê-lo junto a mim. Tá certo que depois do primeiro passo, ele pegava no tranco, só que, sem perceber, ele acabou com minha auto-estima, nesses pequenos detalhes. E eu precisava de tão pouco...
Passei um longo período me perguntando se ele era assim com todas, até que um dia o vi com outra e percebi que não. Ele parecia bem feliz ao lado dela, como se não conseguisse ficar dois segundos sem tocá-la. Foi a primeira vez que eu o vi com outra e por isso não deixei que me visse. Não queria que me surpreendesse chorando. Depois, eu acabei me acostumando em vê-lo na companhia de outras mulheres.
Talvez eu devesse colocar um ponto final em tudo isso, o problema é que quando eu tento fazer isso, ele sempre dá um jeito de aparecer na minha vida, embora nunca seja do jeito que eu gostaria. Foi só terminar de arrumar a bagunça de ontem, pensar em ir ao cinema e me arrumar, que o telefone tocou:
-Alô?
-Oi, menina, recebeu meu recado?
-Ah, é você. Sim, recebi. Já chegou de viagem?
-Cheguei hoje.
-Cê foi viajar mesmo ou tava tre... ou era uma desculpa?
-Claro que fui, não tava trepando com ninguém não.
-Bem, se era pra saber se recebi o recado...
- Na realidade não, eu queria te chamar para ir ao cinema. Tá a fim?
-Bem, eu estava saindo para isso...
-Ah, legal, te pego em uma hora, pode ser?
-Não precisa, nos encontramos lá.
-É melhor eu te pegar, é que eu tô servindo de babá prum gringo e ele quer ir ao cinema, só que é pra ver um filme do Godard. Eu mereço, né? Só vejo filme do Godard para tentar comer intelectuais, você deve saber disso.
- Eu nunca te chamei pra ver Godard...
-Não, mas me chamou para ver peças de teatro experimentais... Bem, o fato é que você é a única pessoa que eu conheço que agüenta Godard sem dormir, então disse a ele que eu não iria, mas eu tinha uma amiga que poderia acompanhá-lo.
- ... eu não sei por que ainda não te mandei pra puta que pariu. Renova seus amigos...
-Ah, o que custa? Pô, cê ia ver que filme?
-Passion, do Godard...
- Aí, tá vendo? Te arrumei companhia. O cara é gente boa. Quebra essa, vai?
- Mas por que uma hora? Eu já estou pronta
-É que eu tenho que buscá-lo antes...
-Tá bom, eu espero.
-Por isso que eu te amo!
Eu odeio quando ele faz isso! Eu deveria ter dito outro filme, eu sei, até tentei, mas não consegui.
Por que eu nunca vejo o que está passando em Shopping? Sou uma boba mesmo. Agora é esperar e ver no que dá...
sábado, setembro 04, 2004
Íntimo e pessoal II
Eu tenho a estranha mania de comparar pessoas a desenhos animados e situações a cenas de filmes. Se há uma incompatibilidade de horários eu digo que vivo um "Feitiço de Áquila", se alguém me assusta, penso em um desenho animado com o qual a pessoa se pareça para me sentir à vontade. Se me apaixono, viro o gaguinho e tenho a mesma imbecilidade do coiote atrás do Papa-léguas.
Sou uma cebola, ou um ogro se você preferir, às vezes estou na porta do cinema, esperando alguém que, talvez, só apareça daqui a 15 anos, ou então, vá me deixar lá, assistindo ao filme que poderia ser minha sem mim.
Nada mais próximo de mim que Cabíria, nada mais sublime que ficar horas vendo os filmes do Fellini.
Tudo é sempre um filme, na maioria das vezes um filme de animação, tudo é como "Waking Life", um sonho do qual eu não consigo acordar, onde pessoas dizem várias coisas sobre o que é a vida para elas. Coisas que eu também penso ditas por quem não conheço. Um sonho do qual eu não consigo acordar.
Mas eu tenho o grande defeito de não saber ir embora no momento em que sobe os créditos. Eu tenho a teimosia de querer saber o depois do "felizes para sempre", do "The End".
É por isso que eu sempre carrego comigo "a leve impressão de que já vou tarde..."
Preciso aprender a ir embora no exato momento em que sobem os créditos finais.
domingo, agosto 29, 2004
Mulher
É só abrir as matérias de revistas, especialmente as masculinas, e encontrar os adjetivos esquisito e estranho para se refererirem à mulher ou algo relativo ao comportamento feminino.
Falam o tempo inteiro das mudanças de humor, da TPM, da menstruação, do orgasmo feminino como se fossem coisas de outro mundo e de forma pejorativa. Porém, nem as revistas femininas abordam as esquisitices masculinas. Quer ser mais esquisito que homem que nem tem TPM e consegue fazer coisas que nós, nem dias críticos de hormônios comandando nossos atos, fazemos?
Eles dão nomes aos seus órgãos genitais. Aliás, o pau parece ser mais importante do que qualquer outra coisa no mundo e nós somos obrigadas a encarar isso com naturalidade.
Eles fantasiam milhares de posições, sonham em fazer sexo nas mais estranhas situações e se a mulher topa até subir no lustre, eles brocham, porque não estão preparados para uma mulher que tope as suas fantasias. E se estão, ela não serve para namorar, porque para namorar é a que faz o feijão com arroz de sempre, embora eles se achem modernos e descolados.
Eles sentem prazer em ver uma mulher engolindo porra. Meu Deus! Isso só não é mais esquisito do que o fato de saírem falando pelos quatro ventos que mulher engole qualquer coisa. E se a gente não engole, eles ficam com raiva. E nós é que somos estranhas, esquisitas.
Eles mudam de humor por futebol, gritam enlouquecidamente quando cortam o dedo, se irritam quando falamos demais e se irritam quando ficamos quietas. Ou melhor, ficam irritados por qualquer coisa, os trinta dias do mês, e nós, pobres pessoas guiadas pela guerra hormonal que o nosso corpo trava quando não engravidamos, quando estamos na TPM que dura uma semana, somos as chatas, estranhas, esquisitas e sensíveis do pedaço.
Fazem tudo isso e ainda dizem que é difícil entender uma mulher. Somos tão normais e fáceis de entender que basta um homem ser um pouquinho mais esperto que a maioria para conseguir conhecer nossos mais íntimos pensamentos. Vide Chico Buarque de Hollanda...
segunda-feira, agosto 23, 2004
Recado
Último soneto
Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes - e vieste...
-- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste --
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço--
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa ? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
( "Mário de Sá Carneiro")
domingo, agosto 22, 2004
Íntimo e Pessoal.
Esclarecendo uma coisa: eu tenho 27 anos e não irei fazer 30 anos semana que vem, tá?
Só estou respondendo porque alguns amigos pessoais ficaram confusos, um quase me ligou me dando os Parabéns pelo trigésimo aniversário e outro ligou e deixou recado com minha mãe.
No mais, a correria na marcha ré de sempre. Não tenho tempo para nada e tenho a sensação de que não faço nada. Tudo acontece na minha vida no período de uma semana e tenho a sensação de que tudo permanece igual.
O homem da minha vida tem namorada. O homem na minha vida quer um marido. O homem que quero na minha vida é casado.
Fiz meu melhor amigo assistir Waking Life de madrugada. Ele dormiu, mas foi gentil dizendo que gostou bastante. Fiz 12 amigos Alemães. Refiz duas amizades que estavam perto, porém distantes. Apaixonei-me e desapaixonei-me num intervalo de 20 minutos.
Sonhei que sonhava. Fiquei 3 dias sem dormir.
Acho que é isso. Esclarecida minha vida pessoal, voltou às ficções cheias de metáforas.
sexta-feira, agosto 20, 2004
Vocabulário eleitoreiro:
Lá estava eu, bodiada, em frente à TV, quando começou o Programa Eleitoral Gratuito. A preguiça de fazer outra coisa, fez com que eu assistisse ao espetáculo.
De repente, quando começaram os "borrões", digo, "bordões" de cada candidato, senti-me na AV. Consolação nos bares GLS que costumo ir com alguns amigos.
Primeiro foi José Serra: "Serra é do bem."
Depois foi a vez do Paulinho da força Sindical: "Emprego é TUDO."
Mais tarde, vez de Marta Suplicy: "Marta faz bem feito"
Das duas uma, ou os assessores de imprensa dos candidatos são gays, ou andaram fazendo um curso intensivo "Pâmela e Paloma" de linguagem. É uma estilistica tão gay que podemos chamar essa eleição de viadagem! Pena que não é uma viadagem do bem, porque esses candidatos não são TUDO e eu não faria bem feito nenhum deles...
Até que a Marta dá um caldo, mas sei lá, tô numas de votar nulo...
segunda-feira, agosto 16, 2004
O mundo parece esquecer
Toque a nona e eu brinco de Alex*.
Enfureça-me e viro Michael Douglas**
Instigue-me e torno-me Eve***
Enlouqueça-me e compro um kit igual ao de Dobbel.****
A vida não é filme e eu pareço esquecer.
* "Laranja Mecânica"
** "Um dia de fúria"
*** "A Malvada"
**** "Igual a tudo na vida"
domingo, agosto 15, 2004
A verdadeira revolução está no puteiro!
O que seria dos seres humanos sem a profissão mais antiga do mundo?
Como Jesus iria mostrar perdão e amor, sem Maria Madalena? Se não fosse ela, quantos poemas, quantas músicas não teriam sido compostas, por se tratarem da máxima: "Quem não houver pecado que atire a primeira pedra"?!
Além disso, o que seria de nós, pobres mortais, se não pudéssemos dizer isso, quando acusados por algum erro?
Pois é, só na primeira prostituta citada, tantos agradecimentos, por isso, acho melhor passar de uma forma genérica pela História e ater-me, basicamente, à profissão.
Se não fossem as moçoilas, "Diário de uma cortesã", de Luciano de Samósata, não chegaria às nossas mãos e não teríamos momentos agradáveis de leitura. Nossa queridíssima "Dama das Camélias", por exemplo, jamais existiria e, diga-me, cara leitora, o que seria de nós sem esse romance?
Ainda em literatura e na minha humilde opinião, "Crime e Castigo" sem a Sônia perderia muito, mas muito mesmo e Eça de Queirós não poderia ter escrito o melhor trecho de "O Primo Basílio", quando descreve Juliana mostrando o calcanhar na praça, atitude, naquela época, apenas das grandes heroínas da nossa sociedade.
Se pularmos para o cinema, pegunto às meninas românticas e sonhadoras, como povoar nosso sonho de príncipe encantado sem Richard Gere aceitando Julia Roberts, mesmo sabendo que ela era uma prostituta em "Uma linda mulher"? Aliás, que graça teria se ela fosse apenas uma linda mulher?
Ou mesmo, se não fosse a profissão, Sharon Stone estaria ainda na cruzada de pernas e não em sua brilhante atuação como uma prostituta em "Cassino". E tantos outros filmes maravilhosos que contam a vida dessas que escreveram a História do mundo e a História da Arte pelo buraco da fechadura.
Entrando no cotidiano, sem essa profissão, muitos rapazes não teriam sua primeira vez, muitas moças não pagariam sua faculdade, muitos pais e padrastos jamais teriam sua reputação abalada e as acusações de abuso sexual dentro das famílias continuariam sendo um segredo, desses que todo mundo sabe, mas não quer dizer. Graças a elas, sabemos que pais e padrastos são capazes de fazer isso, afinal, 75% delas foram abusadas por eles. Quero dizer, as antigas, as novas precisam pagar faculdade.
Sem falar na contribuição linguística que nossas amigas deram ao mundo inteiro. O que seria de nós sem o xingamento favorito de todas as línguas, cujo sentido é o mesmo em todas elas, coisa raríssima de acontecer?
É por essas e outras que eu digo sempre aos meus amigos marxistas para esquecerem o proletariado! Não há proletariado mais no mundo, mas prostituta há e sempre haverá! Precisamos delas! Não há graça no mundo sem a profissão mais querida e antiga.
Adendo: ouviram falar na manifestação das prostitutas espanholas que escreveram num cartaz que o primeiro ministro não era filho delas? Pois é, isso sim é manifestação consciente e inteligente! Temos tanto a aprender...
sábado, agosto 14, 2004
Meu irmão está ao meu lado!
Meu irmão está aqui ao lado como censor dos meus textos, ele não me deixa escrever quase nada e fica dando palpite. Se ele estivesse aqui antes, nos meus 560 posts, eu, provavelmente jamais os teria escrito. Hum... pensando bem... seria bom que ele estivesse aqui nos 560 posts...
*Nossa conversa:
- Você sabe que sou um cara que pensa duas vezes antes de falar...
- É, eu sigo o Chico, ajo duas vezes antes de pensar.
domingo, agosto 08, 2004
sábado, agosto 07, 2004
Groucho, Sevcenko, Índios e tudo mais que me cerca.
As aulas voltaram e as os trabalhos também. Escrever agora só por obrigação e ler só os obrigatórios. Contudo, sobra um tempinho para conhecer melhor Groucho Marx e tornar-me grouchomarxista de carteirinha.
Além disso, quero recomendar-lhes a leitura de alguns russos do século XX, já que nem só de Dostô e Gógol, vive aquele imenso país. Só que farei isso depois, porque agora estou absorvida por Nicolau Sevcenko e São Paulo do início do século XX.
Bem, volto com as dicas de livros, filmes e passeios em breve. Por enquanto, beijos 4all.
domingo, agosto 01, 2004
Pedra Gigante
(Gilberto Gil/Bené Fonteles)
Dessa pedra gigante vaza um sol
A grandeza da Gávea, Zé Ninguém
Lá, gravita levita o que era pó
Lá, fagulha paisagens, zoom e zen
Lá, descasca do corpo o fruto nu
Goza montanha no mar
Beira céus, asa-delta, lá feliz
Ela vem da Fenícia lenda flor
Brotou da força lunar
Da floresta ela vinga o dom da luz
A pedra, a glória de um deus...
Quando tudo der certo, eu me mudo para o Rio de Janeiro definitivamente!
domingo, julho 25, 2004
A vida alheia
Às vezes quero saber da vida alheia. Sou toda ouvidos e olhos capturando as outras vidas e povoando minha imaginação. As orelhas crescem para ouvir a conversa dos que estão sentados atrás de mim no ônibus e os olhos, atentos, muito abertos para perceber cada detalhe de quem está passando.
Às vezes digo a mim mesma: "que coisa feia, menina, meta-se com sua vida!"
Inevitável, quero saber, é vida, não minha, mas vida. Preciso descobrir as vidas, desvendá-las e cochichar nos meus próprios ouvidos: "olha aquele casal, está feliz!"; ou então: "nossa, como alguém pôde matar o próprio amante, como aquela mulher confessou no ônibus."
Nesses momentos, alguém que senta ao meu lado e conta toda sua vida, sem nem perguntar meu nome, faz com que eu me sinta importante e necessária. Eu sei da vida dela e ela não sabe meu nome. Que alegria ser uma anônima tão requisitada. Não tenho rosto, nem nome, sou um ouvido que, prestativo, começa a saber segredos de um outro que jamais vi e espero nunca mais encontrar.
Às vezes a vida alheia me preenche e faz com que a minha própria vida fique em segundo plano. O que é minha vida diante da vida alheia? Ora, quão mais belas as cartas que pude ler, sem ser a destinatária, quão mais trágicos os namoros que soube como acabaram sem ter sido a namorada, quão mais cheios de adrelina os encontros furtivos em motéis longíquos dos quais só participei ouvindo, sem nunca obter o gozo ou a decepção das escapadas.
Preciso dessas histórias, necessito de vida, não da minha, da alheia.
Por mais que pareça estranho, às vezes, eu sou uma vida alheia a mim mesma, porque tudo em mim é vida e se modifica. Aí, preciso saber da minha vida pela vida alheia, para lembrar quem eu sou. Sentir-me normal, até demais, diga-se de passagem. Sentir-me real e mera ficção. Reconhecer-me na vida alheia.
Mas, diferente dos outros, gosto de estar alheia à vida alheia. Gosto de ouvir, olhar e observar, mas desde que eu dê os nomes e continue as histórias que me foram contadas pela metade.
Revistas de fofocas iriam a falência se dependessem de mim. Bom mesmo é vida alheia que permanece alheia, que você só sabe pela metade e nem viu o rosto, só as pernas ou as mãos. Só as bocas e as vozes. Uma tela cubista que você enxerga como quiser...
É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi.
No centro velho de São Paulo o rosto de espera do paulistano fica mais exposto. Há gente que passa e a pressa contagia até quem não tem compromisso.
Há gente bonita e gente tentando se enfeiar. Há gente que se esconde e quem faça de tudo para aparecer.
Há homens do meu tamanho, mulheres com 1,80m. Há meninas que parecem meninos de mãos dadas com meninos que parecem meninas.
E todos esperam a multidão passar para se sentirem sós no meio dela, outros para se sentirem únicos, alguns, apenas mais um.
Há prédios lindos que ficaram feios, prédios feios que todo mundo diz que são lindos. Ruas sujas e garis sentados. Ruas limpas e garis varrendo.
Há velhinhos dormindo, alheios a tudo e todos. Homens que se transformam em estátuas na esperança de parar os passantes, sem muito sucesso.
Homens que correm de um lado para outro, no centro de uma roda formada pela multidão estática, abismada e achando muito engraçada a correria. Paulistano gosta de espelho. Paulistano gosta de rir de si mesmo, enquanto espera.
Paulistano espera porque sempre está a caminho.
Na estação Sé, se não tomar cuidado, sai do outro lado. Dentro do metrô, espera a estação que se não tomar cuidado, desce na errada. Na rua, espera o trânsito passar, o ônibus chegar, os passantes diminuírem.
E quando se cansa de esperar, pode passar no bar do Léo, no bar Brahma, ou em qualquer boteco do centro, porque tudo é perto e tem uma estação de metrô em cada esquina.
Ou tudo é longe, mas tem tanta gente esperando, que parece que tudo é perto e fica ali na esquina, atrás daquela moça vendo pente, ou do rapaz vendendo chocolate.
Vai no bar para esperar o cansaço passar. Toma um chope para esperar o stress ir embora. Senta e espera... fica em pé e espera...
Paulistano espera.
domingo, julho 18, 2004
No casulo para virar borboleta
Mil coisas acontecendo e o blogger mudou. Tem coisinhas novas que eu ainda não testei, mas testarei em breve.
Explicações aos meus queridos leitores:
- Deisielle, desculpe não ter respondido seu e-mail, mas meu computador anda travando, tendo crises existenciais e fica querendo discutir a relação todos os dias que eu tento usá-lo. Máquinas e características humanas: algo para se colocar na lista de coisas a entender.
- Mms, ser lindo e maravilhoso, amado, idolatrado, salve! salve! tento comentar no tucupi, mas a caixa de comentários resolve pegar fogo na hora em que coloco meus dedinhos no teclado. Saudade, docê! Agosto tem gosto de reviravolta! Ano passado teve o gosto do desgosto da partida. Esse ano tem o gosto do gosto da chegada. "O gosto da gente e o gosto das coisas" - estou influenciada por esse livro!
- Ana, o mesmo que acontece com o blog do Mms, acontece no seu. Eles me deixam trancafiada.
- Todos os demais leitores que não cito os nomes, não por falta de consideração, mas por não ter nada específico a dizer, quero que saibam que em breve "eu vou voltar, sei que não é chegada a hora de se ir embora, é melhor ficar." Tenho escrito pouco aqui, porque tenho escrito muito fora. Idéias surgem e muitos trabalhos agilizados para não ser pega de surpresa. Aliás, se algum de vocês conhece um centro de pesquisa sobre mulher, me dê um toque: endereço de e-mail, endereço real e telefone. Fico grata.
Beijos a todos, saudades e logo volto com mais ficção da Dama e meu novo nome, porque Beduína dos Velsos não existe mais!
segunda-feira, julho 12, 2004
Rápidas, porque o dia está nublado.
"Anything Else" e eu me vi necessitando de um Kit sobrevivência. Vejam esse filme, é o melhor de Woody Allen desde de "Celebridade". Ele voltou a fazer o que ele sabe: diálogos inteligentes sobre tudo na vida...
Toca Raul
Sessão de "Não amarás", do Kieslowski, às 2h da madrugada e um cara empolgadaço, na Rua da Consolação, cantando músicas do Raul Seixas. Nos silêncios do filme, que não eram poucos, ouvia-se nitidamente seus agudos em "Tente Outra Vez". Serviu para não deixar a galera, que encarou o "Noitão", dormir.
Se você jurar que me tem amor/ Eu prometo me DEGENERAR
Acho que eu deveria me convencer de vez que ter desistido de ser freira foi a pior coisa que eu fiz na vida. Devo ter vocação, não é possível alguém ser tão desastrada no que diz respeito a relacionamentos.
Não quero que você se envolva
Breve em cartaz no cinema mais longe de você.
Estrelando: Zuleide Lear.
Só para entendidos:
Bisogno un uomo SEXUAL.
Um hemisfério nessa cabeleira
Estou decorando esse poema em prosa para declamar à Maria Bethania se um dia eu conseguir encontrá-la.
quinta-feira, julho 08, 2004
Essa não é mais a minha OPÇÃO!
Morar em Macondo dá nisso, a gente fica sabendo via internet o que acontece. Embora eu não tenha muitos leitores, quero deixar aqui meu protesto.
Seguranças do bar Opção interpelaram duas garotas por estarem se beijando. Uma delas é uma grande amiga minha, pessoa linda, querida e MA-RA-VI-LHO-SA! Ou seja, alguém que deixa qualquer lugar mais agradável e com fama de MUITO BEM FREQÜENTADO!
Eu, embora achasse aquele lugar sem graça, o freqüentava, especialmente quando ia me encontrar com algum amigo feito na internet, porque sempre era a "opção" que eles faziam.
Os amigos fizeram beijaço em protesto, mas ainda estou indignada, pois mesmo depois do Frei Caneca, esse tipo de coisa ainda vem acontecendo e, vejam só, num bar localizado na Av. Paulista. Se ainda fosse num boteco freqüentado por carecas do ABC, vá lá, não é justificável, mas esperado...
Uma coisa é certa, posso não fazer falta, mas não darei o ar da minha graça naquele antro preconceituoso e patético.
terça-feira, julho 06, 2004
Um post realmente autobiográfico
Durante muito tempo usei o pseudônimo de Zilda. Ele surgiu pela dificuldade dos porteiros de prédio e recepcionistas entenderem meu nome.
Como passei a chamar-me Zilda em quase todas as ocasiões sociais em que não se precisa de RG, acostumei e já me imaginava protagonizando uma paródia da personagem de Rita Hayworth, a Gilda. Pensei até em escrever uma pseudo-autobiografia chamada: "Nunca houve uma mulher como Zilda". Seria a glória contar sua vida pra lá de fascinante: uma mulher bonita, culta, inteligente e, principalmente, muito sexy e interessante ao olhar masculino.
Algum tempo depois, percebi que Zilda era tudo que eu gostaria de ser e não teria a menor graça escrever a biografia dessa mulher, porque ela era perfeita. Não há nada mais chato do que alguém perfeito, afinal, não foi à toa que crucificaram Jesus Cristo.
Quando Zilda passou a ser intragável, precisei de outro pseudônimo para as ocasiões sociais e também para povoar a minha imaginação com idéias mirabolantes sobre os seres humanos. Nesse momento virei Zuleika Macbeth. Claro que nunca ousei dizer o sobrenome escolhido aos porteiros e às recepcionistas, apenas o utilizei num "conto" erótico que me encomendaram e jamais publicaram.
O nome surgiu por causa de uma moça que eu entrevistei para trabalhar em casa, história até já contada aqui, mas para não obrigá-los a abrirem outra página, vou resumi-la.
A moça lavava as mãos a cada pergunta que eu fazia e se chama, pela graça dos deuses do nome, Zuleika. Digo pela graça dos deuses, porque tenho obsessão por nomes iniciados pela letra "Z".
Contudo, ela não era uma doméstica, seu perfil fora inventado pela pessoa que me encomendou o conto e era mais ou menos assim:
Zuleika Macbeth é jornalista e escreve contos de macho para revistas femininas ou contos femininos para revistas de macho. Ela nunca sabe dizer...
A Zu era legal, gente boa para conversar no bar, falar de homem e futebol. Uma mulher pra lá de moderna que não suportava frescura e ia direto ao assunto, mas era tão direta e sincera que chegava ser insuportável para uma convivência mais íntima. Sua carreira na minha fértil imaginação durou pouco, apenas o tempo de escrever o tal conto e algumas outras coisinhas.
Quando estive fragilizada, Beduína dos Velso pareceu-me ser alguém legal para expressar-se por mim. Achei que seria uma mistura de Gibran com Drummond. Meu lado oriental, cristão e profético somados à tristeza, descrédito e passionalidade que me invadiram na ocasião.
Esse nome me foi dado por um grande amigo quando, digamos assim, estávamos namorando.
Contudo, Beduína dos Velsos tornou-se um disco riscado na minha doente cabecinha. Não estou falando sobre os momentos em que escrevo coisas introspectivas nessa página, porque nada do que eu digo aqui deve ser levado a sério. Estou falando sobre a decadência de alguém que nasceu para correr nua no deserto e desafiar as areias que cegavam seus olhos e acabou tornando-se melosa e romântica demais. Um ser que anda na rua de cabeça baixa e cicatrizes nos pulsos.
Definitivamente, Beduína precisa morrer, só me falta um novo nominho para povoar meu quarto e para eu escrever mais uma pseudo-autobiografia.
Alguma sugestão? Aguardo respostas.
sexta-feira, julho 02, 2004
Um dia de caranguejo
Parece sina encontrá-lo quando vou ao cinema. Dessa vez, não na saída, mas um pouco antes da sessão começar, na loja de bichos de pelúcia.
- Menina! Comprando um bichinho para dormir com você? Pelo jeito aquele negócio de não ter ninguém para deixar uma fita te bagunçou.
- Sempre engraçadinho. Tava procurando uma lagosta.
- Lagosta? Melhor você ir ao Mercado Municipal.
- Isso que você disse foi para rir?
-Não fique brava. E a arara que eu te dei, não serve mais para dormir com você?
- Não é isso, é que eu quero uma lagosta agora. E você, o que faz aqui?
- Te vi entrando.
- Tá sozinho? Que milagre...
- Acabei de deixá-la em casa, na verdade.
- Ainda é a mesma?
- Qual mesma?
- A que jura que eu sou uma louca viciada em achocolatado e deve ter uns17 anos.
- Não, é outra agora... e ela já tinha 18.
- Melhor, né? Não corre o risco de ser preso.
- Crime de Sedução é de 16 anos, creio que tenha baixado para 14, não tenho certeza.
- Tá bem informado, hein?
- Não era você que queria conquistar um garotinho de 16?
- Você sabe que era brincadeira.
- É eu sei, se ele disser que tem 25 você já descarta.
- Não exagera, 25 são só cinco anos menos, já 18 são 12, né?
- E qual o problema, menina?
- O problema é a lei da gravidade.
- Os homens também sofrem com ela, temos que desafiá-la sempre.
- Mas aí que está, quando ela for aplicada em mim, ele não vai conseguir desafiar nem com reza braba, vou ser trocada por uma de 12, o que é o fim para uma mulher.
- E quem disse que você não corre esse risco com um homem da sua idade ou mais velho?
- Eu sei que corro até mais risco com um homem mais velho, mas isso não me salta aos olhos quando tenho que conhecer os amigos dele.
- Boba, a garota que acabei de deixar em casa tem 23 anos e vocês parecem da mesma idade, ninguém diz que você fará 30 anos semana que vem.
- Você ainda lembra...
- É, você é que não lembra.
- Eu lembrei, comprei presente, cartão, rascunhei e-mail, mas...
- Mas?
- Desisti, quem anda pra trás é caranguejo, você me ensinou isso.
- Eu sei... - ele ficou em silêncio por alguns segundos e disse - mas e aí, achou a lagosta?
- Não, gostei da coruja, só que vou decidir uma outra hora, agora já está quase na hora da sessão começar. E você, vai ficar aqui?
- Acho que sim, me deu vontade de comprar um caranguejo, quem sabe eu acho.
Nessa hora senti uma vontadade absurda de abraçá-lo, mas achei melhor ir embora sem qualquer contato físico. Sabia que se fizesse isso, não iria querer mais sair de seus braços e teria que fazê-lo assim que amanhecesse. Nosso problema sempre foi esse, com a diferença que quando estávamos juntos, eu é quem pedia para que ele fosse embora ao amanhecer...
domingo, junho 27, 2004
O amor depois do "Felizes para sempre"
Fiquei sensibilizada com o final de "Celebridades", porque achei a história da Laura e do Marcos a mais bela história de amor que já vi nos folhetins globais.
Acabei lembrando de uma conversa com o Mms, sobre um livro que ele estava lendo, acho que era do Rubem Alves (depois me passa o nome, Mms?), que dizia que o nosso problema é acreditar no amor como em "Romeu e Julieta","As Pontes de Madison" e " O Amor nos tempos do cólera".
Esse amor eterno que todo mundo precisa acreditar, que nos emociona ao lermos:
"- Y hasta cuándo cree usted que podemos seguir en este ir y venir del carajo? - le perguntó.
Florentino Ariza tenía la respuesta preparada desde hacia cincuenta y tres años, siete meses y once días con sus noches.
-Toda la vida-dijo."
(Gabriel Garcia Marquez)
Não sei, mas eu percebo que geralmente o amor do cotidiano é sempre deixado de lado por todos nós e procuramos a eternidade de algo que só sobrevive na impossibilidade.
Os amores vividos são menos belos, porque somos filhos de "O Banquete" de Platão, herdeiros do mundo ideal e das comédias românticas que terminam no primeiro beijo do casal.
Já repararam que quando nos apaixonamos, fazemos isso por nós mesmos? Geralmente gostamos da imagem da pessoa e ela estraga tudo sendo ela mesma, pois, geralmente, é o contrário do que esperamos. Sempre esquecemos que imagem é o contrário...
Talvez, por isso, eu tenha me sensibilizado com um amor que todos diziam não existir. Acho que aquilo é amor, tá certo que as personagens não tinham um pingo de caráter, mas se perdoavam, passavam por cima de tudo que nós jamais perdoaríamos e só morreram, porque em novela o crime não compensa.
Somos pouco toleráveis com relacionamentos, queremos sempre a perfeição do outro e isso só pode ser alcançado quando o amor não se realiza. Somente casais imperfeitos, que se unem na imperfeição, conseguem sobreviver a toalhas molhadas, cara de travesseiro e tédio. Como Marcelo Camelo disse numa entrevista, o problema é que a vida da gente começa nos créditos, logo depois que o mocinho beija a mocinha no final.
Infelizmente o amor dura mais quando não pode ser vivido, pois a pessoa não estraga tudo, muito menos você...
sábado, junho 26, 2004
sexta-feira, junho 25, 2004
Um poema feito pra mim...
Pela primeira vez alguém escreve um poema especialmente pra mim.
Já me mandaram um e-mail em verso, um amigo já escreveu um poema e me ofereceu, mas não eram especialmente pra mim.
Eu já fui namorada de um poeta e ele mal me escrevia e-mails. Sempre achei que não levava jeito para musa, contudo, Mil Faces me elegeram como musa:
Luar, distante Luar
por ti um poeta chora
como um Lobo que uivasse para a Lua
Chora porque te sabe distante
Porque te percebe triste
Porque te pressente desconfiada
Chora, porque tua beleza
ao mesmo tempo que resplandescente
parece-lhe inatingível
Por ti choram os lobos e poetas
porque sabem que nunca pousaram sobre ti
em teu Mar da Tranquilidade
(Mil Faces)
Para quem não sabe, também me chamam de Luar - só pra constar.
Seiva
Queria falar com a Seiva. Queria sentar num boteco qualquer, seja no Rio ou em São Paulo, e ficar horas trocando impressões com essa moça que nunca vi, mas que é uma amiga a quem eu reservo um carinho muito grande.
Essas coisas são malucas mesmo. A gente conhece alguém através de outro alguém que é importante pra gente e esse alguém se torna mais ou tão importante quanto. É mais difícil de compreender do que as aulas de botânica para quem detesta biologia, como eu. Nunca consegui guardar qual tipo de seiva conduz o Xilema ou Floema.
Mas Seiva eu guardei, seja a elaborada, ou a bruta, guardo com carinho, aqui, na minha caixinha de boas lembranças. Meu bem mais precioso e, felizmente, é difícil alguém tirá-la de lá, a não ser a própria, mas ainda que ela faça de tudo para sair, precisará de argumentos fortes como colocar a mãe no meio.
Hoje, essa mocinha, sósia da Gisele Büdchen, faz aniversário e eu não poderei comemorar a depressão da velhice ao seu lado, mas posso dizer que há muito tempo atrás, uma eternidade aliás, eu tive a idade que ela está fazendo e posso dizer que não é tão ruim assim. O problema será quando ela chegar na minha, vai ficar enlouquecida ao ver que já está com 27 anos e se pegará dizendo: "Ah, que saudade dos meus... 26!"
Parabéns, moça! Espero que nosso "reconhecimento" seja breve, já que da última vez, rolou um desencontro.
quinta-feira, junho 24, 2004
Telas Rápidas
Vi um Shrek de pelúcia tão fofo, mas tão caro. Queria ver um gato de botas. Não tinha na loja.
Quem vai ver Pelé?
Depois de Madame Satã e Cazuza, constatei que cinebiografia não é a praia do pessoal do cinema nacional. Eles deveriam ter aulas com o Milos Forman!
Moça com brinco de pérola é um daqueles filmes que a gente tem que ver, mesmo que não entenda ou não goste de História da Arte.
Só pra constar, eu não tive uma crise de choro ao ver "My life without me", o que eu escrevi me surgiu após assistir ao filme, mas não é uma autobiografia. Recomendo que assistam, é triste e delicado. Na minha opinião, uma mistura de Almodóvar em "Tudo sobre minha mãe" com os filmes da Meg Ryan.
Não tem pra ninguém. De todos os filmes que vi esse ano, o melhor é Dogville. Nem "Adeus Lenin" que eu gostei bastante ou "Mate a biu vol 1", que estão na lista dos melhores até agora, superam minha opinião sobre esse filme. Digam o que quiserem: "3 horas com o mesmo cenário", "teatro filmado" ou qualquer outra coisa. Dogville é um dos melhores filmes dos últimos tempos!
quarta-feira, junho 23, 2004
Morrer arruma tudo:
Leonel Brizola passou de esclerosado a romântico apenas num fechar de olhos.
Isso é Brasil e imprensa brasileira!
Tá certo: gente boa é gente morta, Roberto Marinho que o diga!. Se for político, então, melhor ainda! Tenho calafrios em pensar na morte de ACM - esse vira Santo na Bahia, com certeza. Num dou um ano (pós morte), para começar a fazer milagre.
PS- O Brizola não era tão do mal diante dos meus olhos, não pensem isso, por favor. Só estou constatando um fato.
terça-feira, junho 22, 2004
Cenas, frases e silêncios...
Na minha opinião, "O Poderoso Chefão" tem alguns dos melhores silêncios cinematográficos de todos os tempos. Revi o segundo ontem e ainda visualizo a cena em que Michael (Al Pacino) entra com o irmão daquele que vai acusá-lo no tribunal. É sensacional! Nada se diz e tudo se entende. Outra cena que me agrada muito é quando matam Fredo e seu irmão, sozinho, ouve o tiro e abaixa a cabeça. Silêncio absoluto. Não importa quantas vezes eu veja, sinto um nó na garganta e um certo mal estar.
Também gosto muito de algumas frases saídas da boca de Dom Vito Corleone (Marlon Brandon), e acho o máximo quando Michael, querendo matar Roth, o que parecia impossível, diz: "... o que a gente aprendeu com a história, é que se pode matar qualquer um."
Eu poderia falar de outros exemplos de frases geniais e assustadoras, como a de Wall Street (Oliver Stone): "Quer um amigo? Compre um cachorro." Porém, vou ficar por aqui hoje. Não estou muito inspirada e pretendo rever alguns filmes do Fellini para recarregar-me do diretor italiano.
domingo, junho 20, 2004
O pai que eu posso ter
Dorme, meu pai, sossegado.
Teu sono eu tenho velado
ainda que não possas saber.
Dorme, meu pai, sossegado
que eu fico aqui do teu lado
até chegar o amanhecer.
Dorme, meu pai, sossegado.
Eu ficarei ao teu lado
a velar o sono
do pai que eu pude ter.
(uma pseudoparódia da música que não sai do repeat do meu aparelho de som.)
sábado, junho 19, 2004
Diálogos dos Mortos
Terminei de ler essa obra do escritor Luciano de Samosata, ou Samósata como o tradutor da minha edição preferiu. Samósata, para quem não sabe, é uma cidade, na margem do Eufrates velho, lembrada, sobretudo, por esse escritor do século 2d.C.
Profundo conhecedor da cultura e da língua grega, levou uma vida de "conferencista profissional" - o que nos dias de hoje seria uma espécie de acadêmico com o salário da Fernanda Young.
Sua obra é irônica, inteligente e deliciosa. Menipo, a personagem principal de "Diálogos dos Mortos" é um homem que ri de tudo e de todos além túmulo. Engraçadíssimo.
Vale conferir. LEIAM! LEIAM!
terça-feira, junho 15, 2004
A fita
Tive uma crise de choro após o filme. Não consegui esperar o final dos créditos para ouvir a musiquinha e não atendi aos gritos do porteiro acostumado a comentar a película comigo, após a sessão. Saí correndo em busca de um café isolado e com no máximo duas ou três pessoas além do garçon.
Sentei e torci para que o garçon não me perguntasse nada além do que eu queria, pois estava difícil segurar as lágrimas. Muita sorte ele trazer um café, sem nem olhar para o meu rosto, completamente deformado e inchado de tanto chorar. Após trinta minutos, quando finalmente consegui controlar o choro, sem ter tocado no café, pedi a conta. Resolvi andar um pouco e pensar. Enquanto andava pelas galerias atrás de alguma coisa boba que me fizesse esquecer os motivos do choro, encontrei-o. Dessa vez estava sozinho.
- Oi, menina. Cê tava chorando? Aconteceu alguma coisa, seus olhos estão vermelhos e inchados.
- Nada demais, tive uma crise de choro após um filme.
- Que filme?
- Minha vida sem mim. Sei lá, de repente percebi que vou fazer 30 anos, daqui a poucos dias, e não tenho ninguém para deixar uma fita.
Nessa hora olhou-me assustado, jamais me imaginaria chorando ao ver um filme desses, jamais me convidaria para ver um filme assim. Só lembaria de me convidar para ir ao cinema, se fosse para ver um filme russo com legenda em alemão, mesmo assim para tentar me impressionar, e só me imaginava em cinematecas assistindo mostras do Fellini ou Trufaut.
Mostrou-se preocupado, nunca havia me visto tão transtornada, que até pegou na minha mão e convidou-me para irmos à sua casa, tomar um achocolatado e ouvir Chico Buarque.
Apesar de esperar por mais de um ano para encontrá-lo sozinho e ter sonhado com esse convite, não aceitei. Abaixei a cabeça e disse que era melhor ir embora.
Ele só conhecia 10% de mim e ainda assim não conseguiu me amar...
sábado, junho 12, 2004
Versos
(Para você, por me dar versos sem saber)
Na metade diluída na lágrima
um verso
Na metade escondida no olhar
um gesto.
Da metade resumida num verso
um outro gesto
Da metade alcançada num gesto
um outro verso.
Na outra metade escondida no gesto
o outro verso que se perde
na metade diluída na lágrima
e se esconde no outro gesto
que se cala ao recitar
um simples verso.
Para todas as formas de Amor:
"O amor que move o sol,
como as estrelas"
O verso de Dante
é uma verdade resplandecente,
e curvo-me ante a sua magnitude.
Ouso insinuar,
sem pretensão a contribuir
para que se desvende o mistério amoroso:
Amar se aprende amando.
Sem omitir o real cotidiano,
também matéria de poesia.
(Carlos Drummond de Andrade in: "Amar se aprende amando").
***
Se se morre de Amor
(...)
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis, d'ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
(...)
(Gonçalves Dias - clique e leia o poema inteiro)
****
Aceitarás o amor como eu o encaro?
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.
Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.
(Mário de Andrade)
***
Toulouse-Lautrec, O beijo
Para quem está só, recomendo a leitrua de "Os remédios para o Amor" de Ovídio. Não adianta muito não, mas é uma leitura agradável.
Um feliz dia dos namorados para todos.
Quem está em SP e vai à Parada Gay, a gente se encontra por lá. Quem sabe um dia todos os dias qualquer maneira de amor seja aceita, afinal, qualquer maneira de amor vale amar, não só no dia dos namorados, nem no dia do orgulho gay. Todo dia é dia de orgurlho de ser o que é, todo dia é dia de namorar!
Beijos.
sexta-feira, junho 11, 2004
Momento bem feito!
Depois da festa de ontem por conta da vinda do morador de Belém mais esperado dos últimos meses, eu dei uma cochilada no sofá do nosso mais que querido 607.
Nesse momento de sono, pela primeira vez em minha vida, tive um sonho com história: começo-meio, só não tinha fim ou o fim era o começo, talvez.
Negro Anjo, o maior organizador de festas, como sempre acontece, estava todo atordoado com os preparativos do meu velório.
As pessoas, em vez de flores, traziam caixas de cerveja e eu, do caixão, assistia a tudo enquanto procurava o meu nariz.
Definitivamente eu preciso parar de ler Machado de Assis, Luciano di Samosata e Gógol. Ah, e parar de invejar as pessoas que têm sonhos com histórias...
quinta-feira, junho 10, 2004
I Don't Know What I Can Save You From
(Kings Of Convenience )
You called me after midnight
Must have been three years since we last spoke
I slowly tried to bring back
The image of your face from the memories so old
I tried so hard to follow
But didn't catch the half of what had gone wrong
Said "I don't know what I can save you from"
I don't know what I can save you from
I asked you to come over, and within half an hour
You were at my door
I had never really known you
But I realized that the one you were before
Had changed into somebody for whom
I wouldn't mind to put the kettle on
Still I don't know what I can save you from
I don't know what I can save you from
I don't know what I can save you from
I don't know what I can save you from
I don't know what I can save you from
I don't know what I can save you from
sábado, junho 05, 2004
E veio aquele beijo...aquele beijo...*
Machado de Assis, no conto "O Espelho", revela que a melhor definição de amor não vale um bejio. Pensando nisso resolvi aproveitar a semana dos namorados para falar do beijo. Confesso que não foi só isso que me levou a querer falar no assunto, meu esmalte novo tem forte influência na escolha, pois chama-se "deixa beijar".
Além de Machado de Assis, outros autores deram ao beijo um status além das palavras, já que as definições não compreendem o amor, pois são palavras, não sentimento, assim, retomando o mesmo conto, os fatos explicam melhor os sentimentos: os fatos são tudo. O beijo é um fato.
Cortázar, por exemplo, dedica um capítulo inteiro para a descrição de um beijo. Qualquer definição do amor, feita em páginas literárias, até mesmo "O Banquete", Platão, não deixaria o leitor tão ávido por encontrar alguém quanto aquele capítulo 7 de "O Jogo da Amarelinha. Nesse capítulo, uma ação com referência imediata na realidade é descrita: a imagem do beijo vem à mente. É como quando alguém diz o nome de um prato de que gostamos bastante e começamos a salivar.
Por esse motivo, não é no beijo em si que se encontra o amor, mas, apropriando-me do verso de Drummond, "no breve espaço de beijar". Não é quando as personagens se beijam, mas nos minutos que antecedem o beijo em que a vontade é descrita. Vontade que é o sintoma principal do amor, "paixão" principal da vida, que nos move e que nos faz agir. Assim, o beijo é a ação do amor que ao ser realizada pode provocar o tédio - o que acontece geralmente quando o sujeito entra em conjunção com o objeto -, ou aumentar a vontade - o que acontece quando o casal ainda está nos primeiros meses do relacionamento.
Por isso a prostituta cobrava mais com beijo, pois beijar não é necessidade fisiológica como o sexo, é vontade, é desejo cultural, não natural. Afinal, qualquer bicho faz sexo, mas eu nunca vi um beijo de dois elefantes nesses programas sobre a vida animal.
Não quero, contudo, mitificar o ato de beijar, o romantismo só faz parte do meu cotidiano quando o assunto é Chico Buarque, porém quando a boca que idealizamos coincide com a boca que está a nossa frente**, a frase de Machado de Assis faz mais sentido, os versos de Drummond deixam de ser apenas versos e amor não é mais só uma palavra...
* Verso da música Fotografia de Tom Jobim.
** Cortàzar, J, cap. 7.
sexta-feira, junho 04, 2004
Felicidade
Hoje eu vou comprar a felicidade, se por acaso demorar a voltar não se preocupem. Por enquanto fiquem com essa bela citação:
mas também para muitas pessoas dinheiro não traz felicidade.
Acho que quem inventou isso era pobre e tinha pau pequeno."
para revista TPM de Julho de 2003)
quarta-feira, junho 02, 2004
A lamentável história dos namorados*
Estava conversando com minha mãe sobre o dia dos namorados que em quase o mundo inteiro é 14 de fevereiro, dia de São Valentin, e no Brasil dia 12 de Junho, um dia antes do de Santo Antônio.
Perguntei a ela em que data se comemorava o dia dos namorados no Líbano e ela repondeu-me que não se lembrava de ter tal data.
Brincamos que árabe não namora, casa, mas na época dela e, principalmente na do meu pai, não namorava mesmo Aliás, no mundo inteiro, namoro é algo novo.
Em algumas línguas, a palavra namorado é designada pelo pronome possessivo na frente da palavra amigo. Namorado, consequentemente, é um amigo do qual temos uma certa posse.
Comecei a pensar, então, nessas instituições e nomenclaturas que o mundo foi criando para poder trepar sem culpa (imposta pela igreja) e dividir a grana sem medo (imposto pela elite).
Na evolução dos comportamentos, casamento sempre foi um negócio, mas como era um negócio arriscado, inventaram o noivado, para os pais terem certeza do investimento de seu dinheiro e para os interessados, especialmente o homem, terem certeza de que daria para encarar o contrato sem a rescisão do mesmo, que no mundo cristão era proibida. Nos países de cultura islâmica, sempre pôde rescindir o contrato, e por isso, o noivado é mais curto, apenas o tempo de pagar a metade do valor da noiva - a outra metade vem no divórcio, porque árabe sabe fazer negócio e divórcio.
Quando permitiram o divórcio, no mundo cristão, casamento tornou-se ainda mais arriscado, porque os homens teriam que sustentar suas esposas pelo resto da vida, ainda que arrumassem outra. As mulheres, por sua vez, ficariam faladas e de Senhoras de respeito passariam à prostitutas apenas pela rescisão. Por isso a amante que já era instituição, passou a ser necessidade.
Resolveram, então, parcialmente o problema, inventando o namoro, ainda não como é hoje, mas também não como o famoso: "só podíamos trocar olhares e pegar na mão", que seus avós, ou bisavós, contavam. (Digo seus, porque os meus avós são do século XIX).
Mais tarde veio a liberação sexual, surgiram os contratos pré-nupciais e as mulheres divorciadas ganharam mais status que as solteiras pós 30 anos, ainda mais porque o divórcio passou a ser um ótimo negócio para elas. Quem não se lembra da frase do filme "Clube das desquitadas": ?Não fique raiva, fique com tudo.?
O mundo, a partir daí, foi caminhando para o sexo casual, o casamento sem papel e as amantes perderam sua utilidade, tornando-se dor de cabeça por conta da lei do concubinato e do teste de DNA. Estão aí os pagodeiros e jogadores de futebol que não me deixam mentir.
Já os amantes (tanto das mulheres quanto dos homens que não têm coragem de sair do armário), que antes eram os mais escondidos e candidatos prováveis a terno de madeira, incorporaram-se na sociedade com o nome de personal trainer, a profissão do futuro: salário fixo e sexo garantido.
Agora pergunto, depois de toda a mudança dos costumes, o namoro como fica? E aos namorados que sucede?
*Nome do poema de Drummond citado. Infelizmente não consegui achar o poema inteiro na net. Está no livro "Amar se aprende amando" - se você quiser ler inteiro, só pedir, como sempre.
terça-feira, junho 01, 2004
Se Javé é por nós
Allah será contra nós? (ou vice/versa)
De um lado: os filhos de Isaque, herdeiros da "Terra Prometida", oriundos da Alemanha, Polônia, Itália e alguns outros países da Europa, pós SGM - liderados por alguém que acredita ser Moisés, ou Davi, é homônimo de estrela de cinema e jura que é o mocinho do filme.
Do outro: os filhos de Ismael, irmão de Isaque e filho bastardo de Abraão, o patriarca de todas as religiões de tradição judaico/cristã, que mudaram de posição pós SGM , viraram os "sem - terra" da História e criaram a religião que mais cresce no mundo - liderados (?) por alguém que passou de terrorista a candidato ao prêmio Nobel da Paz, de candidato ao Nobel a enfeite.
No meio: uma cerca de 1 bilhão de dólares, muitas bombas, suicidas, fanatismo e os discursos de George Bushinho contra o terrorismo, que pelo que eu saiba, ele não tem nada a ver com o Al Corão, nem com o velho testamento.
Foi de lá que vieram as "peças" para a "montagem" da minha pessoa... e ainda me cobram coerência...
E se a gente fizesse o que tem vontade?
Acordei com vontades insólitas. Deve ter sido o horário; acordar cedo me deixa com vontades insólitas.
A primeira foi sair com uma camiseta escrito: TAMANHO É DOCUMENTO E HOMEM REPARA EM CELULITE SIM! - até aí, nem tão insólito, mas as vontades foram ficando mais esquisitas, quando fui acompanhar mamãe ao geriatra. Durante todo o trajeto de ida e volta, outras idéias chegaram e instalaram-se em minha doente cabecinha.
Uma moça, muito bem vestida, passou ao meu lado. Segurei-me para não atender aos apelos do diabinho sentado no meu ombro e cochichar em seu ouvido, como se fosse fazer uma declaração de amor, que sua meia estava desfiada do calcanhar à coxa.
No bazar ao lado da clínica, um anjinho pediu para que eu perguntasse o nome da vendedora, mas o diabinho voltou e a moça chamava-se Jocicreuza. Não dá, ter que segurar o riso é muito difícil. Esses pais deveriam ser processados por colocar nomes assim em seus filhos.
Depois da consulta, eu e mamãe fomos almoçar no Shopping. Dessa vez, não sei quem sentou em meus ombros, mas tive vontade de pegar o suco da moça na mesa ao lado, beber e sair como se nada tivesse acontecido, passar na outra mesa, cortar um pedaço da lasanha do rapaz, comer e até jogar um beijinho para ele.
Após pensar sobre essas coisas, tive vontade de contar para minha mãe. De todas as vontades, foi a única que eu realizei e ela, rindo, disse:
- Você não pode acordar cedo mesmo, filha. Fica de mau - humor.
Mas eu não estava de mau - humor. Hoje eu acordei feliz. É sério, fazia tempo que não me sentia assim: "do bem..." Só que eu tive vontades insólitas... todo mundo tem, não?
Not in blue. Just blue.
Para Adriana que tem a paciência de ouvir as minhas vontades insólitas!
Eu quero um homem azul
Azul da psicanálise
Azul do céu, da minha boca
que reflete em água cristalina
Um homem azul
Azul dos olhos da menina
a menina dos meus olhos.
Um homem azul.
Not in blue. Just blue.
Eu quero um homem azul
que faça do meu jazz , bossa nova
do meus pés, o barquinho
as mãos, que venham... que passem
num doce balanço
do macio azul do mar...
Eu quero um homem azul.
Not in blue. Just blue.
Cujo único violão
Eu.
(Zilda Catharina*** in: "Coisas que não precisavam ser escritas")
Um recado à minha filha:
Vai por aqui, porque meu e-mail tá dando pau:
Você me fez chorar de emoção, fez com que eu me sentisse útil. Além do trabalho que eu te dei, você me escreve aquilo? Eu desabei a chorar como uma besta.
Eu vou explodir Minas Gerais! Ô terra pra ter gente maravilhosa!
Só que você não poder ser humana, não pode! Porque em ti, eu acredito. Acredito de verdade! Caramba, eu te amo, sua chata que me deixa toda sentimental!
domingo, maio 30, 2004
If you're feeling sinister
Oh! Get me away from here, I'm dying! (B&S)
Li isso na parede de uma lanchonete. Provavelmente um fã de Belle&Sebastian desesperado com um spray na mão. Poluição visual, vandalismo e outros adjetivos negativos que comumente vêm à minha cabeça quando vejo uma pixação, não passaram nem perto dos meus pensamentos. Pensei apenas na melodia e comecei a cantarolar e lembrar dá época em que o disco e essa música não paravam de tocar em casa.
Minha companheira das horas difíceis, "Get me away from here, I'm dying" foi o hit dos meses de janeiro a maio de 2003.
Contei minhas melhores pidadas nesse período, inventei quatrocentas formas de esconder o choro e entendi, finalmente, o sentido de estender roupas em Macondo. Entendi porque gostava tanto da possibilidade de sumir de pregador na mão.*
Fiquei, então, imaginando os motivos do cara para sair enlouquecido com um spray na mão para escrever esse verso. Por instantes fui solidária para com alguém que nem sei quem é. Não discuto a pixação, sou contra, mas um pixador comum não escreve em parede de lanchonete meia boca, uma frase em inglês e ainda dá os créditos da banda.
Acho que o que me impediu de fazer o mesmo, na época, foram os pregadores e os promotores que a todo momento questionam a tal da minha liberdade condicional.
* No livro "Cem Anos de Solidão" há uma parte sobre uma mulher que desaparece estendendo roupas. Dou o apelido carinhoso de Macondo ao bairro onde moro e se vc leu ou ler o post linkado nesse texto, entederá a comparação. Na época não dei os créditos por pura preguiça.
OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO
(Carlos Drummont de Andrade)
Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação
sábado, maio 29, 2004
Dos autores e das obras
Raramente eu associo autor e obra. Talvez seja um defeito meu, mas ainda que eu goste muito de um determinado autor, sua vida não me interessa em nada. Gosto de saber da vida quando tem alguma relação com sua obra, caso contrário, não faço a menor qüestão.
Com exceção de Mário de Andrade, que devo confessar, gosto mais da figura dele do que de seus poemas, se Borges era de direita, se Nelson Rodrigues machista, ou mesmo se Dostoiévski escrevia para pagar dívidas de jogo, nada disso faz diferença para mim. Gosto do que eles escrevem, gosto do texto, a vida pessoal não me interessa.
Aliás, até com o Mário, isso acontece. Apesar de ser capaz de fazer o caminho do 35, conto "Primeiro de Maio" e adorar ler suas correspondências, coisas como sua sexualidade, motivo da briga com Oswald, relação com Anita são totalmente descartáveis, aos meus olhos, porque não interferem diretamente em sua obra. A briga com Oswald interferiu um pouco no seu trabalho crítico, mas o motivo em si, não.
Com bandas acontece a mesma coisa. O Pedrinho que vive fazendo gracinhas por eu gostar de Belle&Sebastian deve saber mais da banda que eu. Não sei nomes de cor, não sei fatos, acho que não sei quase nada, apesar de ter todos os discos.
Até Maria Bethânia e Chico Buarque que são meus deuses da música, eu raramente procuro saber algo sobre suas vidas. Aliás, quanto mais distante dela, melhor. Sei lá, deuses não devem virar gente, ganhar características humanas como os da Grécia, porque a crueldade é uma dessas características.
Eu sempre insisto na diferença entre autor/narrador, poeta/eu lírico, personagem/pessoa, porque uma obra literária ou uma música, ainda que haja elementos autobiográficos, passam pelo processo de criação, são transformados, e esse é o grande barato da escrita, do contar estórias, ou da melodia e harmonia de uma música. Aquela velha história do "não é o que se diz, mas como se diz". E, volto a repetir a frase do filme Storytelling: "não importa se é verdade ou não, se está escrito é ficção".
Pode ser defeito querer ficar longe da vida pessoal, mas isso também me faz ser menos decepcionada, até mesmo ao conhecer pessoas via blog, que raramente são o que seus sites aparentam. Dessa forma, consigo não esperar nada de um escritor quando o conheço pessoalmente, ou de um autor de um blog - o que raramente acontece, pois até hoje, só conheci duas pessoas via blog e, posso dizer com certeza, não eram nada parecidas com "suas personagens" virtuais.
quinta-feira, maio 27, 2004
As Dedicatórias
Eu sou uma profunda apreciadora de dedicatórias. Há alguns autores que, na minha opinião, deveriam dedicar a vida escrevendo dedicatórias. Um exemplo é Fernanda Young, afinal, quase todas as pessoas que conheço citam como uma das melhores coisas que a moça já escreveu aquela parte em que ela oculta o beneficiário e o motivo, dizendo apenas: "para você, por aquele dia".
Outra maravilhosa é de Gabriel García Márquez no livro "El amor en los tiempos del cólera". É de uma classe o modo com que ele alega a obviedade daquela dedicatória, como se todos os seus leitores tivessem por obrigação saber que seria " para Mercedes, por supuesto".
Quem é Mercedes não importa, porque o leitor não precisa saber, exceto os que têm fixação por biografias, contudo, tem a obrigação de saber que só poderia ser para ela, aquele livro que fala de amor de um jeito tão bonito e é considerado, por um grande amigo meu, seu romance de amor favorito. Tudo bem que eu nunca consigo lembrar-me de outro quando quero ser "do contra", mas essa dedicatória é, sem dúvida, a mais bela declaração de amor que já li. Só que, já diria Machado, não vale um beijo.
Falando em Machado, é dele, ou melhor, de sua personagem Brás Cubas, a mais incrível de todas:
que
primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver
dedico
como saudosa lembrança
estas
Memórias Póstumas"
Nada mais inteligente que dedicar um livro ao verme, mesmo porque esse é o destino de quem o escreveu, de quem o lê e, do jeito que as coisas andam no mundo, de todo e qualquer livro que possa ser escrito.
quarta-feira, maio 26, 2004
Esperança ou o mundo através do olhar de Miss Brill*
A esperança é um bichinho peludo e traiçoeiro. Quando o encontramos, somos tomados por uma felicidade de suco instantâneo. Quase não cabemos em nós mesmos tamanha a vontade de espalhar para os quatro cantos que fazemos parte de um admirável espetáculo em que cada ator, cada fala e cada situação fazem sentido.
Mas é só pegarmos o bichinho na mão que ele nos morde e lembramos que o suco é artificial, a peça não tem diretor e as falas foram escritas por um dramaturgo de quinta.
*Srta Brill é um conto de Katherine Mansfield, escritora nascida na Nova Zelândia em 1888, falecida em 1923, que se espacializou na difícil arte do conto. Entre suas admiradoras mais famosas estão Clarice Lispector e Ana Cristina Cesar. Vale conferir esse belo conto. Infelizmente não achei um link em português, mas se você não lê em inglês e também não achou o conto em português, pode pedir que eu terei um prazer enorme em enviar. Se quiser conhecer outro conto, há a tradução de "Bliss" no site releituras, mas no momento estou com preguiça de procurar o link.
domingo, maio 23, 2004
Achocolatado
Os termômetros marcavam dez graus e a neblina cobria essa cidade que já é cinza por natureza. Ainda assim resolvi sair, não aguentava mais ficar prostrada diante da TV, zapeando. Precisava de gente e de ficção. Decidi ir ao cinema.
O frio parecia emudecer as pessoas e as impedia de sorrir. Durante o caminho, percebia a imagem do meu rosto refletida nas vitrines das lojas já fechadas. Era um rosto acinzentado e de espera. Eu me vi parecida com uma velha professora que conheci há quinze anos atrás. Ela usava óculos que ocupavam muito mais que a área dos olhos, seu corte de cabelo lembrava as francesinhas da década de 30 e seu rosto era acinzentado e de espera.
Apesar da delicadeza da película, não saí tocada como gostaria. O frio tocava-me muito mais naquele momento e por isso resolvi passar num supermercado para comprar achocolatado, antes de voltar para casa.
Já com achocolatado na bolsa, seguia rumo à estação de metrô quando fui surpreendida por uma voz:
- De onde você está vindo, menina?
Era ele, só podia ser, reconheceria aquela voz ainda que não a ouvisse por décadas, fora o hábito de chamar-me de menina, apesar de termos a mesma idade, apenas alguns meses de diferença. Olhei para trás e tive a confirmação. Estava acompanhado por uma garota que deveria ter no máximo 20 anos.
Fiquei parada sem conseguir dizer uma palavra. Estava paralisada olhando o casal.
Novamente ele perguntou:
- De onde você está vindo, menina?
- Do mercado, fui comprar achoco... - não consegui terminar a frase; um alarme tocou no meu cérebro e denunciou a grande bobagem que eu estava dizendo.
Ele, é claro, não perderia a piada por nada e logo disse:
- Nossa, precisava vir do outro lado da cidade para comprar um achocolatado?
A garota, sem entender, perguntou:
- Como assim, onde ela mora?
Fiquei completamente atordoada ao ver a expressão da moça quando ele respondeu sua pergunta. Ela olhou-me como quem fosse dizer: "você é maluca, sair nesse frio só para comprar achocolatado e num supermercado tão longe da sua casa? "
Já tinha levado a fama, resolvi deixar o constrangimento de lado e respondi:
- Pois é, eu sou viciada em a achocolatado, não posso ficar nenhum segundo sem. Mas tem que ser o de uma marca específica e não tinha perto de casa, nem por todos os supermecados no caminho até aqui. Ainda bem que encontrei , minhas crises de abstinência são terríveis. Quase matei meu irmão, da última vez e cheguei a ferir, gravemente, meu cachorro.
A moça ficou assustada, parecia realmente acreditar que eu seria capaz de matar se ficasse sem achocolatado. Ele, porém, percebeu a brincadeira e sorria como no tempo em que estávamos juntos. Por instantes nos olhamos como se estivéssemos lembrando dos mesmos momentos, como se perguntássemos: "por quê"?
A mão de sua acompanhante entrelaçando a dele, indicando que pretendia ir embora, respondeu nossa pergunta. Constrangido, despediu-se de mim friamente e foi embora com ela.
Eu continuei em direção ao metrô, caminhando com a mesma lentidão e timidez da lágrima que caia sobre meu rosto que já não esperava mais nada...
sábado, maio 22, 2004
Salve! Salve, simpatia!
Ao observar seus amigos mais próximos, já notou que há peculiaridades em cada um deles que são completamente impossíveis de explicar, que o deixam com vontade de vomitar, que o irritam absurdamente, mas que é exatamente isso que o faz gostar deles?
Um exemplo disso é a simpatia de E. C. e Adriana. Parece estar escrito em seus rostos: "aproxime-se".
E. C. é a pessoa mais devagar do mundo. Está sempre atrasado, porque, na maioria das vezes, esquece que marcou algo com você. Coisas que deixariam qualquer pessoa sem querer falar com ele por anos, mas é só chegar para tomar satisfações e deparar-se com um sorriso de quem não tem a mínima idéia do que você está falando, conta uma novidade qualquer e o faz esquecer na hora o porquê de estar bravo com ele. Afinal, percebe que ele realmente não sabia do que você estava falando, porque havia esquecido.
Só que a pior parte dos seus atrasos é se você vai buscá-lo em sua casa. Além de ficar esperando horas para que ele crie coragem de sair, o Sr. Simpatia pára e conversa com cada pessoa que o cumprimenta. Detalhe: é daqueles que se alguém pergunta, "tudo bem"? - ele vai explicar porque está tudo bem e o mais incrível é que essa é uma descrição típica de um "chato", mas ao contrário do que se espera, qualquer pessoa começa a se interessar, milagrosamente, por seu relato. Vai tentar isso, você, caro leitor, e ninguém jamais perguntará se está tudo bem, aliás, fugirão ao vê-lo num raio de dois quilômetros. Com E. C., não. Todos os seres humanos que cruzam por ele abrem um sorriso e param para conversar.
Com Adriana acontece a mesma coisa. Ela tem apenas um metro e meio de altura é percebida em todos lugares por onde passa, ainda que esteja numa distância quilométrica. Qualquer lugar onde entra, ouve-se alguém gritando: "Dri!" Chega ser enjoativo.
Pior ainda é aquele maldito celular que não pára de tocar um minuto. É só começar uma conversa e ela é interrompida, ou pelo toque do celular, ou por alguém gritando seu nome. Chega ser impossível conversar com ela mais de dez minutos, sem ser interrompido. Assim como E. C., demoram séculos para chegar onde se propuseram ir. Vão encontrando uma série de pessoas no caminho e o pobre coitado que os espera vai preparado para passar horas fazendo carão.
É incrível como apesar de coisas desse tipo serem extremamente irritantes em qualquer outro ser-humano, nos dois tornam-se peculiaridades fascinantes. Qualquer dessas pessoas que os param, fazendo-os se atrasarem, que interrompem suas conversas, também passam pelas mesmas situações dos que os esperam e são interrompidos. No entanto, ninguém deixa de procurá-los.
Mas vá tentar ser simpático como eles... seu celular não tocará, a não ser quando sua mãe liga ou em caso de engano, e ficará mais sábados à noite sozinho em casa, mesmo sendo bissexual e como disse Woody Allen, tendo 50% a mais de chance de não ficar.
quinta-feira, maio 20, 2004
A meu Pai doente
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas.
Tu, para amenizar as dores tuas, Eu, para amenizar as minhas dores!
Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!
Magoaram-te, meu Pai?!
Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus/
De assim magoar-te sem pesar havia?!
? Seria a mão de Deus?!
Mas Deus enfim, é bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!
Manuel Bandeira.
quarta-feira, maio 19, 2004
O olho de Miguilim
Tá, eu sei que isso aqui virou "o diário da donzela pós-moderna, pós pós modernidade". Mas tenham paciência com essa quase Balzaquiana que está em plena transformação do olhar.
Minhas vistas estão cansadas e quando fico de castigo, não tenho tempo para brincar de pensar.
Tenho colocado os óculos mais vezes do que de costume. Comecei a usá-los aos dois anos de idade, mas sempre dava um jeito de tirá-los em alguns momentos do dia, quando ver tudo com clareza me fazia mal. O problema é que mais gente, além do oftalmo, começou a reclamar da ausência dos óculos em meu rosto. Gritam e como castigo me obrigam a colocá-los, ao contrário de antigamente que me deixavam num cantinho da casa, quietinha. Era bom; brincava de pensar, pensava no pensar e não falava com ninguém. Podia ter a certeza de que minha tagarelice não estava incomodando. Até minha eterna "leve impressão de que já vou tarde" sumia e eu podia ficar comigo mesma. É bom estar só comigo.
Hoje em dia não posso mais desfrutar de minha companhia, a todo momento me chamam e eu tenho que estar de óculos. Repetem o tempo inteiro que preciso enxergar direito.
Ora! O embaçar das coisas, o vulto e a sombra alimentam meus pensamentos. Posso emprestar formas muito mais interessantes às coisas. Mas ninguém entende isso por conta dos famigerados 30 anos que batem à porta. Estou pensando, seriamente, em não atender.
sábado, maio 15, 2004
A quem interessar possa...
Hoje é aniversário de alguém tão especial para mim que me sinto com vergonha de não cuidar dessa amizade como deveria. Às vezes vislumbro-me com outras pessoas que, embora façam parte da minha vida, não ocupam um espaço tão grande em meu coração como esse meu amigo.
É bom quando o encontro nos corredores, porque me sinto em casa. Aquele lugar já não faz parte de mim, mas quando o encontro, sinto que voltei ao primeiro ano, quando tudo era festa, eu amava literatura e achava que queria passar o resto da vida ensinando as pessoas a gostarem de ler, escrever e, pensava, sobretudo, que seria uma grande escritora algum dia.
Eu deveria colocar o link do fotolog de sua banda, eu deveria escrever em camisetas "I love Rô", eu deveria fazer um tratado filosóficos sobre os vocábulos "filé", "chinelar" e "babe".
Nunca fiz nada disso. Mas deveria ter feito, deveria...
Ontem, sozinha no elevador, pensei em tudo isso. Subi pelas ruas desertas em que só se ouvia um triste samba canção e só se podia perceber uns poucos. Voltei me achando estranha e cheguei em casa preparada para o susto. Estava tudo igual, exceto pelo fato de que meu pai não agonizava de frio, não queria se cobrir e não me reconhecia.
Chegar em casa é estar preparada para o susto, mas nunca o preparo consegue amenizar a dor. Preparei-me para morte, mas não para vida.
Tenho me sentido sem casa, sem que ninguém consiga reconhecer-me de fato. Já diria Ana C., "não consigo passar minha ternura, minha ternura, entende?"
'Não sei, mas esse tal de
yogurte, às vezes, me faz lembrar o poema do Drummond:"Anedota Búlgara".
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
Quando meu cachorro Au Pacino finalmente aprender a teclar, não vou deixá-lo entrar lá não.
terça-feira, maio 11, 2004
Falando demais
Outro dia uma amiga disse que o Centro Acadêmico deveria chamar-se Nelson Rodrigues e não Oswald de Andrade. Melhor, esquerda festiva deve assumir-se festiva.
Estava pensando em Nelson e seu buraco da fechadura. Creio que esteja também, ali, olhando o mundo através do buraco da fechadura. Um tanto menos interessada no que as pessoas fazem na cama, um tanto mais interessada no que as pessoas fazem à mesa.
Gosto de pessoas, mas não sei aproximar-me delas. Tenho medo de chegar e dizer um simples "oi". Tenho medo, porque sei que eu não pararia de falar se ela desse um sorriso convidativo. Preciso desses territórios sem fronteiras para conseguir me aproximar, mas abuso. Sou abusada. É isso.
Ainda bem que as palavras podem significar outra coisa daqui a alguns anos. Assim como os seres humanos.
Enjoy Active.
Escrevi isso nunca camiseta hoje. Pronunciando rápido e aportuguesado dá outro adjetivo bom para minha qualificação.
Finalizando a paranóia
Por que há tantos poetas homens e tão poucas poetas mulheres, se homem sempre diz que não gosta de poesia?
Por que na literatura de língua inglesa, especialmente na Inglaterra, há mais mulheres incluídas entre os grandes nomes da literatura e no resto do mundo é tão difícil lembrar de um nome feminino?
Por que o Rock in Rio em Lisboa não se chama Rock in Lisbon?
Será por essas coisas de português que Pessoas preferiu nacionalizar-se falante do português e não português?